secretaria@cppc.org.br 51 9-8191-0407

A INTERFERÊNCIA DO SEGREDO NAS RELAÇÕES

Teses

IMPSI – INSTITUTO MINEIRO DE PSICODRAMA POS-GRADUAÇÃO – PSICODRAMA TRABALHO DE CONCLUSÃO DA PRIMEIRA ETAPA ENFOQUE CLINICO TEMA: A INTERFERÊNCIA DO SEGREDO NAS RELAÇÕES CLEYDEMIR DE OLIVEIRA SANTOS PSICÓLOGO, PSICODRAMATISTA 1 PALAVRAS CHAVE Segredo, tele, protagonista, pai, filho, matriz de identidade, energia, sacralizar, dessacralizar. RESUMO O artigo avalia a interferência do Segredo nos relacionamentos como uma unidade télica que tem desdobramentos de uma conserva sacralizada e que a espontaneidade e a criatividade vão trazer oportunidade para que a verdade em atos criativos, dessacralize e devolva congruência aos relacionamentos e saúde emocional para o protagonista seja ela o mantenedor ou a vítima do segredo. The article evaluates the interference of secret relationships as a unit that has ramifications for tele a sanctified and preserved the spontaneity and creativity will bring opportunity for the truth in creative acts, and return will desecrate the congruence relationships and emotional health for the protagonist either the victim or the keeper of the secret. INTRODUÇÃO A expressão “Segredo” não aparece no dicionário de Psicodrama. Mas “o que há de mais escondido; o que se oculta à vista, ao conhecimento”, como se conceitua a palavra, é sabido pelo psicodrama que não fica tão escondido às emoções e aparecem em atos. “O que a ninguém deve ser dito; que é secreto; confidência” não passa despercebido à alma. “O sentido oculto de algo” é experimentado mesmo que não explicado. Por várias vertentes das relações e por várias possibilidades de avaliação ele está presente e influencia todas as relações, gerando teles incongruentes e desfigurando a espontaneidade e a criatividade dos atores em sua própria história. A primeira parte deste artigo se propõe a essa discussão. Na segunda parte, à partir de personagens de filmes em que o segredo é parte principal da trama, como vai se configurar esta ação télica e seus desdobramentos para a relação, deixando-a como algo sagrado e de difícil acesso. A terceira parte, visa Dessacralizar o segredo do seu nascimento nas relações até suas consequências, usando o Psicodrama como caminho de cura e busca da verdade, nos levando a conclusão de que é o segredo e não a mentira, o contrário da verdade que liberta. O SEGREDO COMO UM FATOR TÉLICO “A faculdade humana de comunicar afetos à distancia” , é uma das várias conceituações para Tele; e uma das unidades télicas mais destacadas na experiência com o psicodrama bipessoal são os segredos e informações veladas nas relações. O fenômeno tele manifesta-se na vincularidade grupal como energia de atração, rejeição e indiferença. Essa energia induz o estabelecimento de relações (positivas ou negativas) formando pares, triângulos, vínculos, cadeias etc. Se tomarmos como exemplo personagens de ficção, como nossos egos-auxiliares, vamos encontrar este fenômeno gerando expectativas e temores, principalmente nas relações parentais mas também nos processos amorosos. No filme “O Caçador de Pipas” o protagonista agoniza toda a vida tentando atrair para si a atenção do pai, que agoniza por seu lado tentando fazer daquele filho o que achava ser o melhor, mas se afastaram gerando um abismo entre eles, desde os interesses profissionais até a escolha da companheira e cuidado do filho no futuro. Uma intrincada história de uma família no Afeganistão. Um pai que amava sem limites um filho, que amava sem limtes aquele pai, mas nunca um consegue agradar o coração do outro. Entre eles há um segredo que só é revelado anos após a morte daquele pai. Limitou a vida do filho, trouxe um desgosto terrível para aquele pai pois o filho nunca foi o que ele gostaria que fosse nem compreendeu o que fazia ou pedia. Lidar depois com as memórias e o perdão, resignificando o papel do outro na sua matriz de identidade, reaprendendo a ler o mandato que aquele pai não conseguiu expressar não diminuem uma vida perdida por um relacionamento abortado. Um segredo é uma barreira quase intransponível em uma família. Um outro filme versa sobre o poder de um segredo – O Leitor – mostra como por motivos e emoções que a protagonista não discerne deixando em segredo o fato de não saber ler, na alemanha nazista pós segunda guerra Mundial, um adolescente se envolve por acaso com uma mulher que tem o dobro de sua idade. Apesar da diferença de classe, os dois se apaixonam e vivem uma bonita história de amor, até que um dia ela desaparece misteriosamente. Oito anos se passam e o menino, agora como um estudante de direito se surpreende ao reencontar seu passado adolescente quando acompanha um polemico julgamento por crimes de guerra cometidos pelos nazistas. Toda sua vida foi se estreitando e ela perdendo oportunidades pois o que conquistava era abandonado quando este detalhe corria o risco de ser revelado. Ela perde o amor do jovem com quem se relacionava, e que lia para ela. Por algum motivo ela não suportava esta verdade. Por final, foi condenada a prisão perpétua, pelos nazistas e no cárcere, aprendeu a ler mas o mesmo sentimento a impediu de usufruir um pouco mais do pouco que conquistou de volta. O amor entre pai e filho no primeiro exemplo é inegável. A convicção que um morreria pelo outro não se questiona mas ambos vivem em palcos distintos um em busca do outro. O que os separa é apenas uma unidade no fator télico que funciona de forma contrária – um segredo – que mantém incompleto o encontro existencial entre eles. Segundo o dicionário de psicodrama e sociodrama O fenômeno tele manifesta-se na vincularidade grupal como energia de atração, rejeição e indiferença e evidencia uma permanente atividade de comunicação co-inconsciente e co-consciente. Ela possibilita aos seres humanos – vinculados em constelações afetivas mediante a operação constante das funções pensar-perceber e intuir-sentir de cada um – o conhecimento da situação real de cada indivíduo e dos outros na matriz relacional de um grupo. Quanto menor a distancia entre os protagonistas, maior este vínculo e maior a energia de atração. Se o fator télico tem seu objetivo de gerar um encontro existencial, o segredo na relação pode ser um fator de alteração na formação da identidade do indivíduo, comprometendo sua criatividade e espontaneidade em cada papel que exerce. Moreno considerou a espontaneidade e a criatividade como fenômenos primários e positivos do desenvolvimento individual, não fenômenos secundários decorrentes da libido ou de qualquer outro impulso sexual. O segredo como interferência no caso citado, acrescido da ausência das mães dos protagonistas, e um véu sobre a morte de uma e ausência da outra, deixa uma limitação da espontaneidade, da criatividade e da maturação da matriz de identidade. Dias afirma que a Identidade Sexual é o canal psicológico por onde essa sexualidade vai ser escoada e descarregada. Ela também é determinada pelo desenvolvimento psicológico da espécie, isto é, todo indivíduo maduro vai desenvolver algum tipo de identidade sexual para a descarga de sua sexualidade. A formação da identidade sexual apesar de ser uma característica da espécie, vai sofrer uma enorme influencia da interação ente o indivíduo e seu meio ambiente psicológico, dede os padrões culturais e morais da comunidade onde ele vive até a sua relação com a sua matriz de identidade constituída da família onde vive, seu Modelos de Identidade constituída da família onde vive, seus modelos Internalizados de homem e mulher e até as características neuróticas de sua personalidade. Ao invés de um Modelo feminino preexistente, como cunhado por Dias , havia no protagonista um “segredo feminino preexistente” e Desta forma, a Identidade Sexual tem possibilidade de sofrer um série de bloqueios. No segundo exemplo, o amor daquela mulher com aquele jovem, exercido em segredo não era a questão principal nem um segredo a ser considerado, mas o fato dela não admitir que não sabia ler, mesmo gostando tanto de histórias que o rapaz lhe contava e lia nos livros que trazia, gera todos os prejuízos citados e suscita atenção a esta ação tão comum nas relações. O contrário de segredo da relação pode ser caracterizado pela Tele de mutualidade, que fortalece o vínculo de um casal, mas com o segredo presente dá lugar a uma Tele de incongruência, fazendo daquela relação um amor impossível que leva a fuga e culpa alterando os papéis e potencial de cada um. Moreno afirma que “o papel pode ser definido como uma unidade de experiência sintética em que se fundiram elementos privados, sociais e culturais”. Em função da impossibilidade imposta pela cultura para que o amor entre aquela mulher e aquele adolescente perpetuasse, associado a um conceito citado por Cukier sobre a Criança interna, sabemos que o Eu infantil que é mantido dentro do adulto em sua posição inicial como ser imutável originado em circunstâncias indutoras de vergonha ou desconfirmadas, gerando condutas defensivas, que São funções reativas, que o paciente desenvolveu ao longo de sua vida com a finalidade de controlar a angústia gerada por vínculos assimétricos que lhe produziram profundas lesões narcísicas. Isto vem balizando o segredo, que mantém algo em secreto, que se entrega mas não se revela, que foge para não ser descoberta em um círculo vicioso de reações provocadas por outras feridas narcísicas, mesmo que Cukier afirme que Moreno não se ocupou da auto-estima ou do Narcisismo em nenhum momento de sua obra, e não o fez provavelmente pela ênfase que sempre deu aos aspectos relacionais. O mais perto que chegou foi a formulação do conceito de autotele (Moreno 1992:140) usado para falar da relação da criança consigo mesma e com sua imagem. Mas o segredo vem mantido pelas feridas narcísicas e das reações da criança ferida dentro de adultos. Assim os protagonistas de um e de outro filme lidaram com seus segredos em papéis diferentes, um como vítima outro como detentor de um segredo, mas os prejuízos psicológicos são para todos os que se relacionam como geradores, cúmplices ou vítimas deste fenômeno. O QUE HÁ DE SAGRADO NO SEGREDO Aquele que pensa que o céu é cheio de alegrias, não conhece o céu. Aquele que pensa que a glória é alegre, não conhece o céu. Aquele que pensa que existem estrelas no céu, não conhece o céu. Aquele que não sabe que os habitantes do céu vivem amargurados, não conhece o céu. Aquele que não sabe que eles padecem de fome e sede, não conhece o céu. Aqueles que não sabem que eles não valem nada e são órfãos de pai, não conhecem o céu. (Moreno em As Palavras do Pai pg. 77) Algo como que sagrado existe na manutenção do segredo nas relações. O psicodrama vem desmistificá-lo, dessacraliza-lo e dar oportunidade para novos parâmetros na relação. De fato, sabemos hoje que a interpretação daquilo que vem a ser educação infantil depende menos de normas que os psicólogos ou educadores estabelecem como saudáveis e desejáveis, e mais da estrutura emocional dos pais e de como eles próprios foram educados. O segredo, e sua obrigação de mantê-lo, é passado de geração a geração. Neste enfoque relacional a expressão segredo não é algo que eu simplesmente não sei, mas algo que me afeta mesmo que eu não o saiba; uma informação que não me foi de todo passada mas que está presente, de forma que a percebo, sofro sua influencia, me assombro, fujo, repasso, aumento, atuo, reajo, sem saber a que; eu sei que não sei, mas que existe algo ali que toma proporção sobrenatural e gera reações absurdas. Da mesma forma o que gera e sustenta um segredo nas relações nutre a sensação de que algo sobrenatural, intransponível existe, justificando aquele fato ficar escondido sob pena de amaldiçoar, perder, assombrar, desrespeitar impondo-lhe a obrigação de esconder e pagar um preço emocional como os guardadores de tesouro universal. Em O Caçador de Pipas, a infância do protagonista era um céu, com direito a tudo o que ele podia desejar; mas ele era um órfão de mãe, literalmente, pois esta morrera no parto e órfão de pai, no sentido figurado, pois este pai idolatrava o filho do empregado, seu melhor amigo, mas que não podia sê-lo por ser de uma casta inferior, mas enquanto criança esta diferenciação não é tão nítida. Enquanto na Matriz de Identidade Total Indiferenciada onde a criança não distingue a proximidade e distancia, antes e depois, dentro e fora, em uma fome de atos infantil como denominou Moreno, o protagonista é uma criança que não se dá conta do ambiente carregado de segredo. Para a criança nesta idade, essas funções estão submersas em um sincretismo total e por isso não podem ser discernidas, mesmo que sofridas. Com a inteligência acima da média, lê e escreve livros com pouca idade, atuando de várias formas para agradar este pai e desvendar o segredo de sua distancia emocional, sente culpa pela morte da mãe e acredita que o pai o pretere ao filho do empregado, meses mais novo que ele, que nem sabe ler mas é sempre elogiado até na maneira de jogar pedras. Aquele menino não era apenas um serviçal. Era uma pessoa que o idolatrava, que brigava na rua por ele, gerando culpa pelos ciúmes velados que nutria em relação ao pai. Este menino é filho do Pai, o grande segredo! A mãe daquela criança foge de casa ao dar a luz, pois sabia que seu marido era estéril e logo descobririam quem era o pai daquela criança, gerando ao protagonista uma ansiedade neurótica, pois esta se estabelece quando um indivíduo se vê compelido a um desdobramento de sua tendência de transformação rumo à sua própria transcendência, e além disso, nega ou reprime os autênticos sentimento da ansiedade existencial, transformando a ansiedade básica de transformação em ansiedade neurótica. Faltam literalmente, as palavras do pai, que validariam o amor que ele sente por aquele moço, permitindo que criatividade e espontaneidade brotassem daquelas relações onde havia amor amordaçado pelo segredo. A verdade não é fácil de ser suportada, mesmo sendo libertadora. Esta é a minha lei: não permitirei que a verdade fique sem nascer. E se tu não podes suportar a verdade, ajuda aquele que pode suportá-la. Faz com que ela floresça e preencha o mundo inteiro. Este fator sobrenatural do segredo é a ausência da verdade. Talvez com a impressão que as crianças não a suportariam, mas na realidade os adultos, os dois pais é que não dariam conta dela. O mundo deles, não preenchido pela verdade foi cheio de ciúmes, desconfiança, mentiras, armadilhas, agressividade, cobrança, mesmo em um script de total submissão como tinha que ser em um regime de castas. Usando uma mentira do protagonista, não um segredo, os adultos se separam, separando as crianças por que ninguém suportava a verdade. Junto com o segredo surge o lugar para o medo. A Matriz familiar que é em última instancia a rede vincular que vai se formando na interação dos papéis originários (filho-mãe-pai) vai se estruturando com os jogos ora do terceiro incluído, ora do terceiro excluído se apresentando como zona para o desenvolvimento infantil. A fome de Atos, começa a diminuir dando lugar a fome de transformação, mas como se dará, se o jogo não pode ser jogado? O terceiro é excluído por lei, não por jogo. O terceiro no triangulo – a mãe – é o segredo que foi sacralizado e com o qual não se pode brincar. Fugindo do país de origem, não fogem do segredo. Fugindo daquele palco, não fogem da cena e pai e filho continuam num ambiente emocional sacralizado, intocado, amaldiçoado pelo segredo que os faz tatear sempre e se encontrar jamais, até que anos depois novas consignas chegaram depois da morte daquele pai, abrindo possibilidade para que a verdade fosse vivenciada. O segredo era do pai, o sofrimento do filho. Não que o pai não sofresse, mas ele não estava sob a ameaça do segredo, do não revelado, mas da culpa que era de alguma forma repassada para o filho pois o sofrimento do pai se justifica na perda da esposa e não no segredo, que é segredo. Dias exemplifica isto falando da Evolução da Sexualidade quedo cita uma cliente a quem chamou de Maria . Ela tem 35 anos de idade, é mãe de um garoto de seis anos e de uma garota de nove anos. Relata que o garoto vem apresentando um comportamento nitidamente sexualizado com ela, beijando-a na boca e volta e meia, passa a mão pelo seu corpo. Maria está com dificuldade sexuais com o marido faz certo tempo, sem vida sexual ativa. Ela relata que, no trato com os filhos, sua conduta é a mesma com a menina e com o menino e que todas aas noites vai ao quarto deles para desejar-lhes boa-noite e fazer-lhes carinho. Montamos a cena em que Maria vai agradar os filhos a noite e peço a ela que faça o carinho no braço do ego-auxiliar. A título de aquecimento, sugiro que primeiro se lembre da filha e, de olhos fechados, faça o carinho no ego-auxiliar. Feito isto, ele relata um toque muito carinhoso. Em seguida, Maria fecha os olhos e pensando no filho, faz o carinho no ego auxiliar. Ela leva um grande susto pois constata um toque extremamente erótico, o que é posteriormente confirmado pelo ego-auxiliar. Após esta constatação, Maria continuou a fazer carinho nos filhos, mas o garoto parou de apresentar o comportamento sexualizado, passando a comportar-se como uma criança de seis anos. O segredo dos pais afeta o filho e quando atua na cena a mãe em questão o libera de sua obrigação de sofrer com ela aquela relação sagrada que o deifica, atendendo a necessidades que nem ela havia tomado consciência. Este menino deificado, supre mas traz para si uma erotização que sentia e atuava mas que não era genuinamente dele, considerando a sua maturação sexual, mas do segredo captado na relação dos pais. De um lado o sofrimento desta influência, de outro a culpa por não dar conta de suas próprias relações. Outro exemplo de uma Psicoterapia Bipessoal a quem o terapeuta chama de Pr. E que está na segunda sessão com queixa de uma depressão que se acelera a medida da chegada do casamento da filha, 15 dias adiante. Ela vai casar a filha 15 dias adiante e está muito deprimida, sentimento que acompanhou por toda sua infância e juventude. Casada a 29 anos, está dentro de casa no clima muito ruim sem animo para nada e com medo do desafio do casamento. Pessoas que vem de longe, o pai que tem 90 anos e quase não enxerga. Pergunto sobre sua infância e vem uma cena repetida: aos 9 anos ela está no quintal e o pai vem bêbado, trocando as pernas. Vergonha, medo, abandono, pois a mãe está na cozinha cantando, – ela sempre canta quando está com raiva, triste, ou quando ele está chegando – a musica da mãe a faz sentir mais só – ele a agride e diz que ela está de caso com o padre onde ela anda todo tempo, num surto de ciúme que o álcool traz. Encenamos esta menina ao encontro do pai. Ela conversa com ele e fala tudo o que pensa. Todo a raiva dele, vontade que ele morra ou vá embora. Depois na inversão de papeis ela descobre que ele sofre muito, pois é negro, e sua avó o recrimina e discrimina todo o tempo como a ela também. Ele não superou isto. Ele não consegue não beber. Ela o perdoa e pede perdão por este sentimento que teve, pois transformou-se em culpa. Ela admira e ama o pai de uma coleguinha onde passa o dia. Ele os leva para passear de Kombi no domingo, mais de10 crianças da rua. Este sentimento aumenta sua culpa. Ela tem que ser punida por Deus por não amar se pai e ainda amar e admirar o pai da coleguinha. Na cena que foi montada, a menina está no quintal, o pai vem bêbado e o vizinho, único que não bebe no quarteirão está a distancia olhando tudo. Depois de falar com o pai ela vai e fala com ele. Agradece o modelo que foi que permitiu a ela escolheu um homem que não É Bêbado, não abandona a família. Confessa a culpa e ele como o pai do coração a exime dela pois “Deus sabe que ela é uma boa menina e está confusa com os pais que tem seus problemas”. Depois ela mesma vai conversar com a menininha de 9 anos. Neste momento ela volta ainda mais e lembra que aos 4 anos ganhou um carrinho com manivela, para ela e os irmãos, e o carro quebrou enquanto ela brincava. Ela diz para ela que os “brinquedos quebram”, os pais não são perfeitos. Chorou muito e aquilo serviu como símbolo para a culpa que já sentia (processamento) pois já vivia a cena do pai bêbado e a mãe cantando desde sempre. O ódio pelo pai guardado em segredo, o afeto pelo pai da colega e todo o conteúdo emocional que o casamento – que é sagrado – traz potencializa a depressão que é a guardiã de seus segredos mais sagrados. DESSACRALIZANDO O SEGREDO PARA SAÚDE EMOCIONAL “ Conhecereis a verdade e a verdade vos libertarás” João 8.32 O potencial de sacralizar uma unidade télica gerando um segredo, evitando a verdade,congelam a espontaneidade e a criatividade, mas como todo ser humano é também divino , daí o poder de sacralizar, nova possibilidades sempre surgirão. Para Moreno a espontaneidade é o fenômeno que faz parecerem novos, frescos, flexíveis todos os fenômenos psíquicos. É o fator que lhes confere a qualidade de momentaneidade. As estruturas psíquicas estereotipadas são, em última instancia, construídas a partir de unidades e, substituindo e reduzindo-a. Mas o aparecimento de e não pode ser sustado. Ela flui repetidamente. Uma mudança na situação exige uma adaptação plástica do indivíduo a ela. Os fatores e fomentam e inspiram essa reorientação. O fenômeno “e” são as possibilidades que surgem no palco existencial e oportunidades de mudança e espontaneidade. São os momentos télicos que sugerem a reorientação e que o protagonista, confrontado por uma consigna que vem de um parente distante, afirmando que ele tinha um sobrinho preso no Afeganistão não mão dos Talibãs, traz de volta a criatividade e coragem de viver uma verdade que estava escondida pelo segredo todos aqueles anos. “E” a partir daquela informação, ele vai em busca da verdade em um movimento que renova sua vida e de todos os que contracenam com ele, pois existem palavras sábias, mas a sabedoria não suficiente, falta ação. Dessacralizar vem de vivenciar. Atuar de novo, contracenando com a verdade e não com o segredo. Dando lugar á espontaneidade e não a conservas. Para Moreno , é evidente que um processo criador espontâneo é a matriz e a fase inicial de qualquer conserva cultural – quer se trate de uma forma de religião, uma obra de arte o uma invenção tecnológica. Coloca simplesmente em primeiro plano a relação entre o momento, a ação imediata, a espontaneidade e a criatividade, em contraste com a costumeira associação de espontaneidade e reação automática. Dessacralizar (dês + sacralizar) é fazer perder o caráter sagrado. A dessacralização da imagem paterna foi encarada com a verdade do filho que o pai teve, com o sofrimento que este foi submetido por causa daquele segredo e pelo sofrimento que o sobrinho estava sofrendo agora. É o momento de atuar, de reagir ao espontâneo ou ser consumido pela conserva que gerava e sustentava o segredo. Afinal, aquele rapaz em conflito era filho de uma casta inferior e não justificava nenhum risco por causa dele, insiste a conserva cultural, fortalecida pelos riscos iminentes. Mas voltar ao Afeganistão, vivenciar aquele palco seria um processo de cura e dessacralização do segredo para eliminar as incongruências télicas entre aqueles personagens, inclusive o irmão que antes de morrer aprendeu a ler – o que não era comum entre aquela casta cultural- só para deixar-lhe uma carta que traz-lhe novas consignas e o liberta do ciúme e do medo infantil. O caminho da desscralização está nos parâmetros Locus – Matriz – Status nascendi. Estes conceitos tem profundas implicações práticas e metodológicas – “Locus: o lugar, em relação a quem, a qual vínculo esta conduta reativa e defensiva se instala”. Voltando ao Afeganistão, em busca da verdade, do lócus original de seus traumas e feridas infantis onde ele como criança, assistiu passivamente à cenas que se passaram muito cedo em sua vida, antes dos 8 anos de idade submetendo-se ao poder dos adultos e a seus segredos, injustiças e abusos. Sentindo raiva, a criança não tem o que fazer, submetendo-se a vergonha, humilhação e inferioridade que jamais foram esquecidos apesar de todo esforço de negá-los. O Psicodrama permite que estas experiências sejam revividas na terapia e a Matriz, que é a raiz ou origem do fato vem a palco com a conversa com um tio distante; uma carta do irmão não assumido, revendo o mandato que delegou a si mesmo neste processo de trauma. Para Moreno , matriz é em si, o próprio conceito de vínculo e, sua acepção mais exata… como um universo de ações e interações fundamentais e constituintes; uma área onde o homem desempenha todos os encontros e desencontros.

Na formação do trauma , a criança faz um pacto, juramento para o futuro que quando crescer ninguém vai fazer aquilo com ela ou com pessoas que ela ama. Quando adulto há uma criança interna com projetos de vingança e resgate de dignidade perdida que gera as dificuldades atuais, como viveu todos os anos com o pai e com a esposa, sem uma alegria com a sua própria atuação pois nunca foi o sonho do pai. Como escritor, como se tornou não escrevia sobre a guerra o que seria um consolo para o pai, mas era autor de romances e ficção, como o fazia na infância. Revivendo o stadus nascendi, o processo de evolução da conduta ou o processo de desenvolvimento do trauma, ele volta onde tudo foi escondido, neste caso o segredo do pai. Em uma viagem de muitas cenas, muitos atos, ele se vê frente a possibilidade de atuação como um homem viril e agressivo enfrentando os Talibãs para liberar seu sobrinho mas também em busca de um árvore destruída pela guerra na casa em que viveram, onde gravara uma aliança de amizade com aquele que não sabia ser seu irmão.

A falta de “Palavra do pai”, o levou a traí-lo e mandá-lo embora. Esta aliança é retomada na figura do seu sucessor. Com a verdade ele rompe os poderes sagrados do segredo e entende e desenvolve um papel muito parecido com o idealizado pelo pai que a vida inteira cobra dele sem dar consignas suficiente para atuar. O segundo protagonista, a moça condenada pelo Nazismo no filme O Leitor, também tem um palco em que atuar de maneira criativa e espontânea fluiu várias vezes culminando com um julgamento público onde atores do passado reaparecem para novo significado do papel de cada um. Se a verdade fosse vivenciada com todos os desdobramentos e ações que a acompanham, ela seria livre, mas, como o script da vida vai sendo escrito durante o ato, ela opta por continuar debaixo do manto sagrado do segredo e deixa de atuar segundo a verdade que liberta.

Foi condenada a prisão perpétua pois de alguma forma, mesmo não libertando é sagrado e a relação com o sagrado sempre tem compensações. É Na prisão ela aprende a ler e tem contato com obras que sempre desejou, vindo da pessoa que a supriu naquele momento idealizado pelo segredo. CONCLUSÃO Toda relação é sagrada e o outro é deificado quando atende a minha necessidade. Quanto mais infantil for o protagonista, não importa qual seja a idade – o primeiro exemplo trata-se de uma criança mas o segundo de um adulto – mais esta deificação se conserva. Esta energia télica é positiva quando divide este potencial de deificação à relação e não ao indivíduo, atraindo cada uma a troca e não a subserviência. Essa energia télica da relação é negativa para os dois lados de uma relação quando os segredos não podem ser confrontados pela verdade sacralizando-o e conservando uma relação onde o crescimento e a troca não são possíveis. Essa energia télica é positiva quando o segredo é apenas parte da fantasia pois os deuses podem criar e suprir o outro naquele ato, mas a espontaneidade e a criatividade em constante movimento trazem a verdade como elemento que traz mais espontaneidade e permite o crescimento de todos os personagens da cena.

A relação é mais sagrada que os elementos que se relacionam. O segredo em um ambiente saudável é apenas um ato que vai ser revelado pela verdade que também é apenas um ato para aquele momento pois vai gerar novos segredos e a saúde na vida virá sempre, do movimento espontâneo e criativo e contínuos. BIBLIOGRAFIA HOSSEINI, Khaled – O Caçador de Pipas, Ed. Nova Fronteira Daldry, Stephen – Diretor de “O Leitor” Alemanha 2008 Cukier, rosa – Sobrevivencia Emocional, Ágora, 1998 Menegazzo, Zuretti, Tomasini – Dicionário de Psicodrama e Sociodrama, Agora, 1995 Moreno, J. L. – Psicodrama, Cultrix, 2003 Moreno, J.L. – As Palavras do Pai, Editorial Psy, 1992 Campos, Maria das Graças de Carvalho – Apostila Psicodrama, Módulo Básico, 2011

Copyright ©1976-2018 CPPC - Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos
Todo o conteúdo deste site é de uso exclusivo da CPPC.
Proibida reprodução ou utilização a qualquer título, sob as penas da lei.