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VELHA ALIANÇA E NOVA ALIANÇA, por Karl Kepler

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ESBOÇO DO EVANGELHO

(Um auxílio para compreender a diferença entre Nova e Velha Aliança, e solidificar uma base comum para nossas discussões, por Karl Kepler)

“..lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, pois o que nela se gerou é do Espírito Santo; ela dará à luz um filho, a quem chamarás JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” (Mateus 1.20,21)

“Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, abençoando-o, o partiu e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. E tomando um cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança, o qual é derramado por muito para remissão dos pecados.” (Mateus 26.26-28)

VELHA ALIANÇA E NOVA ALIANÇA

Quando João, no início de seu evangelho, diz: “A lei foi dada por meio de Moisés, mas a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (1.17), ele quis deixar bem clara a diferença entre os dois modos de se relacionar com Deus: antes de Cristo (a Velha Aliança) e depois da morte e ressurreição de Cristo (a Nova Aliança). Não se trata exatamente da diferença entre Velho e Novo Testamento na Bíblia, embora tenha alguma relação com ela. O ponto principal, que causa toda a diferença entre as duas alianças, é a morte de Jesus na cruz, e o que ela significa para nós e para Deus. Antes de Jesus morrer, Deus revelou sua lei para governar a vida humana até que viesse o Messias. Isso era necessário por causa do grave problema dos seres humanos: o pecado. Com a vinda do Messias e seu sacrifício pelos pecados da humanidade, a fé em Jesus assume o lugar da obediência à lei, e estão abertas todas as portas para um relacionamento direto e amoroso entre Deus e nós, como pai e filho(a).
Resumidamente, as principais diferenças são:

VELHA ALIANÇA:

1) O comportamento humano (obediência ou desobediência às leis de Deus) determina recebermos a bênção ou o castigo nesta vida, segundo a lei de Deus – Dt 28.

2) A motivação básica para a conduta humana é o temor a Deus (medo de errar, combate ao pecado) – cfe. Êxodo 20.18-20 (no episódio da entrega dos 10 Mandamentos). O que mais se ressalta é o dever, a obediência à Lei.

3) Garantia da aliança: sangue de animais, sinalizando que a morte produzida pelo pecado foi “compensada”, produzindo purificação provisória nos pecadores – Ex 24.4-8

4) Administração dos pecados: sacrifícios regulares e especiais de animais (Levíticos 1 a 7) e separação entre o ser humano e Deus, através de átrios e cortinas do templo, e do uso de sacerdotes e levitas como intermediários.

5) Modelo para vida: o servo (=escravo), que se esforça para agradar ao seu senhor em tudo o que faz, e se preocupa especialmente em não desagradá-lo, para não ser castigado.

NOVA ALIANÇA:

1) “O justo viverá da fé” (Rm 1.16), sem depender daquilo que consegue fazer (obras) – Romanos 1 a 5. Trata-se da fé especificamente em Jesus, na sua morte na cruz por nossos pecados.

2) A motivação básica: o amor recebido de Deus Rom 5.8, I Jo 4 (“o amor lança fora o medo” – paradigma da substituição da velha aliança pela nova). “Nós amamos porque ele nos amou primeiro”. (I Jo 4.18,19)

3) Garantia da aliança: o sangue (a morte) de Cristo (Mt 26.28), conforme relembrado na Santa Ceia. A morte do Filho de Deus em lugar dos pecadores.

4) Administração dos pecados: pagos total e eternamente na cruz de Cristo, e esquecidos. Os pecados da humanidade foram a causa última da morte de Jesus, trazendo perdão e vida para os que acreditam, como foi tipificado pela cobra de bronze, durante a peregrinação pelo deserto (Jo 3.14,15). Deus agora é totalmente acessível (a cortina do templo se rasgou no instante da morte de Jesus), sem intermediários, tornando-se Pai de quem crê em Jesus. João 1.12; Col 2.13,14; I Jo 2.2; Hb 4.14-16

5) Modelo para vida: filho, e não mais escravo. (Gál 4.21-31). O sentimento é de amigo de Deus (Jo 15.15); Rom 8.15-17, sem aquele temor da velha aliança.

PARA A VIDA NESTA TERRA:

1) A Nova Aliança está vigorando plenamente. O Espírito Santo habita o coração do crente, e não pára seu trabalho. Nós, apesar disso, continuamos vivos também quanto ao “velho homem”, sendo ainda pecadores, até nossa ressurreição. Ao mesmo tempo, pelos méritos de Cristo, somos considerados santos e sem pecado. Assim, temos a vida simultânea de duas naturezas na mesma pessoa: a nova já iniciada, e a velha que ainda não cessou totalmente.
2) Base de paz com Deus, especialmente em relação a nossos pecados – Romanos 5.1-5, inclusive nos sofrimentos, que certamente virão.
3) Atitude de esperar os Céus, com a volta de Cristo. João 14.1-3
4) A santificação na Nova Aliança acontece da mesma forma, pela fé, na união com a morte e ressurreição de Jesus. Em Filipenses 3.4-13 Paulo ilustra em si mesmo a diferença entre as duas alianças.
5) Ética nesta vida: Tiago 1.25 e 2.12,13: a “lei da liberdade” (em oposição ao “dever”). Não simplesmente “devemos amar ao próximo”, mas pela primeira vez nós “podemos amar ao próximo”.

Um texto que descreve muito bem a diferença entre as duas alianças está ainda no Antigo Testamento: Jeremias 31.31-34 e aparece comentado no Novo, em Hebreus 10.11-19 (vide mais adiante).

O PAPEL DA BÍBLIA

A Bíblia é a palavra de Deus. Ela nos conta que Jesus é a Palavra que se tornou carne. Ela nos conta que foi inspirada pelo Espírito Santo, e também que é o Espírito quem dá vida, enquanto que a letra mata (II Co 3.6). Portanto, ao lidarmos com a Bíblia estamos lidando com poder de matar e de vivificar, com o ministério da morte, e com o ministério do espírito que produz vida; com a condenação, e com a justiça. Por isso tanta coisa contraditória tem sido dita (e sempre será) utilizando textos da Bíblia.

Em termos de atitude e sentimento, os irmãos mais conservadores, regidos mais pelo medo de errar, se apegam a textos bíblicos como sendo a chave da salvação de suas vidas, garantia de não estarem errados, enviados diretamente por Deus para eles neste tempo presente. Não se questiona uma ordem tão superior, pelo contrário: esforça-se tenazmente para obedecê-la. E o medo de porventura estarem errados os faz freqüentemente “empurrarem” a responsabilidade das decisões da vida para o texto bíblico, por extensão “para Deus”.
Já os irmãos mais liberais, regidos por uma compreensão bastante generosa do amor, por vezes não têm o menor receio de questionar o que ouviram do Pai (tal como acontece em muitas famílias), e não vêem nenhum problema em tentar determinar outro significado, ou mesmo distorcer aquilo em que não conseguem acreditar ou que não conseguem aceitar. A Bíblia acaba sendo vista como uma produção de comunidades, homens, tradições e cosmovisões, cabendo aos leitores de hoje descobrir e determinar o que seria a mensagem de Deus para nossa realidade presente.

Em ambos os lados encontram-se cristãos muito sinceros e sérios, muito dedicados e dispostos a servir a Deus. Seria ingenuidade e infantilidade negarmos a veracidade de muitos argumentos de ambas as posições. É verdade que a Bíblia é palavra de Deus; e é igualmente verdade que nenhuma das pessoas que dela se utiliza consegue ser perfeita ao fazê-lo (obviamente, eu inclusive).Portanto, humildemente, vamos nos achegar ao texto bíblico sem tanta convicção de que conseguiremos sempre entender tudo o que ele diz, mas tentar compreender a intenção do Espírito Santo ao inspirá-lo. Nas palavras de II Coríntios 3, vamos nos esforçar para não utilizar a Bíblia para ministério da morte e da condenação, mas para vivificação e justiça, e assim buscamos servir a nosso Senhor que veio para salvar o mundo, e não para julgá-lo (Jo 12.47).

Para o trato de qualquer questão, e portanto também para a questão da homossexualidade, queremos não abrir mão da verdade que a Bíblia diz, e também não abrir mão da verdade das experiências que nos chegam nos consultórios e igrejas. Mesmo sem entender tudo, cremos que não é necessário distorcer ou desprezar nenhuma delas – que o Senhor nos ajude a tanto.

Nas palavras do evangelista João: “E a Palavra se fez carne, e habitou entre nós, cheia de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai….Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”. (João 1.14,17)
Assim, juntamente com Jesus, queremos refletir sua graça e verdade, as duas juntas: sem abrir mão da verdade, e sem abrir mão da graça. Jesus foi e continua sendo assim – esse é nosso modelo, essa pretende ser nossa chave de interpretação bíblica: graça & verdade, em Jesus.

CAMINHO ESTREITO

A certeza que podemos ter é a de que sempre haverá um caminho de Deus a ser seguido. Estejamos na condição e situação em que estivermos, como diz Jesus: “o que vem a mim de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37b), e esse é um processo que teve sua origem no amor do Pai: “todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim” (Jo 6.37a)

Em suma, estamos aqui porque sabemos que há um caminho de Deus nessa situação, e esse caminho é estreito, muitas vezes solitário e solidário com Jesus, e sabemos que esse caminho está também contemplado na Bíblia. Sabemos o seu início (o amor do Pai), e sabemos o final (a herança nos céus, pela fé em Jesus). Já o meio, onde estamos agora, não conhecemos bem, mas é um processo de formação de filhos de Deus, à semelhança de Jesus Cristo – e para isso contamos com a cooperação do Espírito Santo: “Se estamos esperando alguma coisa que ainda não podemos ver, então esperamos com paciência. Assim também o Espírito de Deus vem nos ajudar na nossa fraqueza. Pois não sabemos como devemos orar, mas o Espírito de Deus, com gemidos que não podem ser explicados com palavras, pede a Deus em nosso favor.” (Romanos 8.25,26)

ATITUDES BÁSICAS

Na Velha Aliança, Deus entregou sua lei através de Moisés. O Espírito Santo ainda não habitava nos corações do povo de Deus, porque o problema do pecado humano ainda não tinha sido resolvido. A lei é externa ao coração humano, e imposta pela autoridade e pelo temor a Deus (Êxodo 20.18-20: “Ora, todo o povo presenciava os trovões, e os relâmpagos, e o sonido da buzina, e o monte a fumegar; e o povo, vendo isso, estremeceu e pôs-se de longe. E disseram a Moisés: Fala-nos tu mesmo, e ouviremos; mas não fale Deus conosco, para que não morramos. Respondeu Moisés ao povo: Não temais, porque Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis.”). A base do temor era necessária para inspirar obediência. As regras eram extremamente simples, com recompensa conforme o comportamento: se obedecessem às leis, seriam abençoados; se desobedecessem, seriam castigados. Palavras-chave, que indicam a atitude básica do povo de Deus nessa aliança: “obediência, dever, mandamentos, princípios”, e seus correlatos “temos que, devemos, precisamos…”. Hoje a base da velha aliança está por trás das nossa dúvidas como: “Crente pode fazer isso? é certo isso? é pecado aquilo? Qual é a vontade de Deus?…” Tudo sempre transmitindo nosso temor de pecar, perante a imagem de um Deus santo e rigoroso, eternamente insatisfeito conosco, cobrando de nós um pouco mais de empenho, mais controle sobre algum pecado, ou mais dedicação a uma missão. Ou seja, nunca estamos tranqüilos e descansados, com as almas aliviadas.

Assim a lei “tomou conta do povo de Deus”, tal como uma babá, até que chegasse o Messias (na plenitude dos tempos, cfe. Gálatas). E o Messias veio, prometendo descanso para nossas almas, para salvar o mundo e não para julgá-lo, e para ser o sacrifício que pagasse de uma vez por todas os pecados do povo. Chegando o Messias, terminou o tempo da “babá”: a Velha Aliança cumpriu sua missão (Gál. 3.24,25). Demonstrando essa realidade, assim que o sacrifício perfeito foi oferecido (a morte de Jesus na cruz), o véu do templo, que protegia o santuário onde Deus se fazia presente, rasgou-se de alto a baixo. Isso significa que agora, pela morte de Jesus, o acesso a Deus se tornou livre, para todos os que nEle acreditam. E o culto a Deus, antes totalmente centralizado no templo de Jerusalém, agora mudou-se para dentro do Corpo de Cristo, numa atmosfera espontânea, sendo feito por pecadores conscientes de sua condição e redenção (“em espírito e em verdade”).

Portanto a Nova Aliança se instalou por meio de fé em Jesus Cristo (“o justo viverá da fé”), e trouxe, finalmente, a tão necessária “paz com Deus” (Romanos 5.1: “justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”). O amor toma o lugar do medo como motivação básica da vida, e essa liberdade resultante da exclusão do medo cresce na alma humana, por Deus nos transformar de servos em filhos amados.
Romanos 8.15 talvez seja o verso que melhor sintetize essa mudança radical: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai! O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus;”
As palavras-chave que indicam a atitude básica na Nova Aliança infelizmente são pouco ouvidas em nosso meio cristão – o que é um sinal de como anda nossa fé. Infelizmente, nenhuma tradução da Bíblia teve a coragem de traduzir “Aba, Pai”, e foi preferido manter a palavra do original aramaico. O que significa “Aba”? É o jeito como uma criança pequena chama seu pai. Observe um filho de 2 anos, uma filha de 3 anos de idade: como eles tratam seu pai? Pelo menos como “papai”, mas geralmente sem nenhum receio, as crianças abrem a boca e berram: “paiêêêê!” – e sabem que serão atendidas: isso é “Aba”. Sem o peso daquele medo paralisante de estar errando ou blasfemando (tal como o terceiro servo da parábola dos talentos). O modelo, como ensinou Jesus, é a atitude de criança, sem a qual ninguém entra no Reino de Deus.
Já atitude de tentar definir tudo a partir de “é pecado” ou “não é pecado” – aplicada tantas vezes ao homossexualismo – não nos ajuda aqui. Jesus deixou claro que, na Sua aliança, os pecados estão no coração humano, muito antes de virarem (ou não) ações. Por isso absolutamente todos pecaram, e muito, e jamais conseguirão cumprir a lei de modo aceitável a Deus. Todos precisam, sempre, de um Salvador: Jesus Cristo, o Justo.

A SANTIFICAÇÃO

A santificação faz parte do processo de transformação em filhos de Deus, e esse processo é essencialmente conduzido pelo Espírito Santo – uma espécie de “mãe” que se dispõe a cuidar de nós e nos ensinar várias coisas, nos fazendo filhos e filhas do Pai e parecidos com o primogênito, Jesus Cristo.
Jesus nos apresentou um rápido perfil de como esses filhos e filhas vão se parecer no final do processo. São aquelas pessoas que vêem alguém com fome e vão ajudar, que sabem de alguém que foi preso e vão visitar, que percebem alguém passando necessidade e se dedicam a ajudar. Mas elas não fazem isso por obediência a um dever: fazem espontaneamente, nem se apercebendo de que fazem isso para Deus (Mateus 25.31-46). São pessoas bonitas, amorosas, de uma vida que dá prazer de olhar.
A Bíblia também mostra qual é provavelmente a principal ferramenta que o Espírito utiliza nessa santificação: o sofrimento, que vem para quem está em paz com Deus, salvo por crer em Cristo (Romanos 5.1-5), muitas vezes através de sérias crises.
Por ser um processo que pertence a uma outra natureza – alguns estudiosos chamam isso de “biologia da ressurreição” – a santificação não pode ser produzida por esforços humanos. Ela é vista como parte integrante da salvação pela fé em Cristo, e portanto, diferentemente do que muitos ensinam, é conduzida da mesma forma que o “início” da salvação: pela fé. Assim Jesus ensinou a Paulo: “… os gentios, aos quais te envio, para lhes abrir os olhos a fim de que se convertam das trevas à luz, e do poder de Satanás a Deus, para que recebam remissão de pecados e herança entre aqueles que são santificados pela fé em mim.” (Atos 26.18)
Esse trabalho santificador do Espírito Santo produz o famoso “fruto do Espírito” (Gál. 5.22,23), de modo que nosso foco muda: em vez de procurarmos não pecar, podemos com liberdade procurar fazer o bem: “Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não haveis de cumprir a cobiça da carne” (Gál 5.16)

O SERVIÇO

Na Nova Aliança somos convidados – encorajados até – a nos oferecermos a Deus, a seu serviço, e oferecermos nossos corpos para servir ao Deus vivo (Rm 12.1,2). Essa não é mais uma lei ou obrigação: é uma real possibilidade, um convite ao coração que já abriga o Espírito Santo, tal como crianças pequenas que gostam de “ajudar” papai e mamãe nos trabalhos domésticos. Mais que um dever, é uma oportunidade, um convite, uma bênção, na linha do “graças a Deus que obedecestes de coração” (Rm 6.17) e do “Deus ama a quem dá com alegria” (II Co 9.7)

O REINO DO OUTRO MUNDO – A ESPERANÇA

Guardemos bem firme essa convicção da transcendência da verdadeira vida: se pensarmos apenas em nossos anos de passagem por este planeta (incluindo, portanto, a sexualidade humana), como se isso fosse o mais importante, perderemos o rumo totalmente. Neste mundo temos a oportunidade ímpar de encontrar e conhecer a Jesus Cristo, o Rei que morre de amor por gente como nós. Somos convidados e liberados para segui-lo, e o Reino dele não é deste mundo. É para o outro mundo, para a Casa do Pai do Céu, que Ele vai nos levar, assim que voltar para nos buscar. Muito mais que alienação, essa é a verdade, uma vida eterna pela qual vale a pena perder tudo nesta vida, inclusive a própria. Jesus nos aconselhou sabiamente: “tenham cuidado de vocês mesmos, para que o coração de vocês não fique sobrecarregado, nem com os prazeres nem com as preocupações desta vida, e aquele dia chegue de repente, como uma armadilha” (Lucas 21.34). Esse dia vai chegar sobre todos os que habitam na face da terra, independente de sua orientação ou prática sexual.

A VERDADE E O ENGANO

Jesus, esse Rei de outro mundo, é a perfeita Verdade, e o único caminho, e a vida que nos ilumina. João nos alerta para o risco real de nos enganarmos, de a verdade não estar em nós. Acontece sempre que não nos achamos errados e pecadores (“Se dissermos que não temos pecado, enganamos a nós mesmos e a verdade não está em nós” I João 1.8). Sermos bem verdadeiros a nosso respeito é o caminho da libertação.
Portanto, mantenhamos um olho bem aberto para perceber quando a verdade parece não concordar muito com nossas certezas: é bastante provável que estejamos nos enganando em nossas convicções, sejam elas quais forem. Esse filtro de luz serve para ambas as direções: em relação aos textos bíblicos, por exemplo, é verdade que foram escritos em meio a uma cultura antiga, patriarcal, machista, sexista, etc. mas daí a dizer que eles não queriam dizer o que disseram, ou que hoje o sentido seria o oposto, é mais provável que estejamos nos “auto-enganando”… Já quanto aos apregoadores dos milagres transformadores de Deus em nossas vidas, é óbvio que eles às vezes acontecem, mas milagres de cura de verdade não precisam de reforços diários ou semanais, nem estão propensos a recaídas, e especialmente não por conta de falta de fé das “vítimas”. Se essas situações acontecem, é muito mais provável que nossas convicções nos enganaram, nos cegaram para a realidade, e na verdade o milagre não aconteceu…
Como já disse Paulo, seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso (e isso nos inclui a todos e todas): se a realidade não correspondeu ao que deveria ser, se um procedimento que tinha tudo para fazer bem acabou fazendo mal, não se engane a si mesmo, nem jogue a culpa na vítima – vamos admitir a verdade, reconhecer nossas limitações, agradecidos que Jesus morreu por elas, e seguir procurando, sem o pavor de sempre ter de acertar.

CONFERINDO NA PALAVRA

No início deste texto trouxemos um esboço das diferenças fundamentais entre a velha e a nova aliança. As passagens bíblicas selecionadas abaixo (além de muitas outras que tratam do mesmo tema) reforçam essa compreensão:

“Eis que os dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá, não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, essa minha aliança que eles invalidaram, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o Senhor; pois lhes perdoarei a sua iniqüidade, e não me lembrarei mais dos seus pecados.” (Jeremias 31.31-34) Veja também como essa passagem é citada e comentada em Hebreus 10.14-18.

“Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos rudimentos do mundo; mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo de lei, para resgatar os que estavam debaixo de lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai. Portanto já não és mais servo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro por Deus.” (Gálatas 4.3-7)

“Estava ele no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem em seu nome, deu-lhes o poder se tornarem filhos de Deus; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.” (João 1.10-13)

“Nós sabemos que tudo o que a lei diz é dito para os que vivem debaixo da lei. Isso a fim de que todos parem de se justificar e a fim de que todas as pessoas do mundo fiquem debaixo do julgamento de Deus. Pois ninguém é aceito por Deus [justificado] por fazer o que a lei manda, porque a lei faz com que as pessoas saibam que são pecadoras.
Mas agora Deus já mostrou que o meio pelo qual ele aceita as pessoas não tem nada a ver com a lei. A Lei de Moisés e os Profetas dão testemunho do seguinte: Deus aceita as pessoas por meio da fé que elas têm em Jesus Cristo. É assim que ele trata todos os que crêem, pois não existe nenhuma diferença entre as pessoas. Todos pecaram e estão afastados da presença gloriosa de Deus. Mas, pela sua graça e sem exigir nada, Deus aceita [justifica] todos por meio de Cristo Jesus, que os salva. Deus ofereceu Cristo como sacrifício para que, pela sua morte na cruz, Cristo se tornasse o meio de as pessoas receberem o perdão dos seus pecados, pela fé nele. Deus quis mostrar com isso que ele é justo. No passado ele foi paciente e não castigou as pessoas por causa dos seus pecados; mas agora, pelo sacrifício de Cristo, Deus mostra que é justo. Assim ele é justo e aceita [justifica]os que crêem em Jesus.” (Romanos 3.19-26)

“Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa com dádiva, mas sim como dívida; porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como justiça; assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus atribui a justiça sem as obras, dizendo:
‘Feliz aqueles cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos. Feliz o homem a quem o Senhor não imputará o pecado’.” (Romanos 4.7,8, citando Salmo 32.1,2)

“E tomando pão, e havendo dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que é derramado por vós.” (Lucas 22.19,20)

“Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos, para que, renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivamos no presente mundo sóbria, e justa, e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, que se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda iniqüidade, e purificar para si um povo todo seu, zeloso de boas obras.” (Tito 2.11-15)

“Fiel é esta palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o pior [principal]” (I Timóteo 1.15)

“Porque eu sei que em mim (isto é, na minha carne) não habita bem nenhum.” (Romanos 7.18)

” Se dissermos que não temos pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós.” (I João 1.8)

“Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (I João 1.10)

“Se alguém está em Cristo é nova criatura; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.”(II Co 5.17)

“Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum eu lançarei fora” (João 6.37).

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