SOMOS IGUAIS! artigo escrito por Clarice Ebert
Como será bom quando chegar o tempo em que não for mais necessário tocar nesse assunto!
Será um novo tempo em que as lentes do preconceito terão sido quebradas e os olhos finalmente enxergarão por um cristalino divino, a realidade de que todos somos iguais.
Mas, enquanto ainda olharmos uns para os outros com um olhar valorizando a pele, é preciso tocar nesse assunto. Pois significa que nossas lentes ainda não se ajustaram a esse cristalino divino, que mostra a igualdade entre as pessoas.
De qual assunto precisamos falar? Desse assunto asqueroso de que tem pessoas que acham que há gente que só por ter pele preta é menor, vale menos, precisa de menos, deve se contentar com pouco, não merece ser vista e deve aceitar o seu lugar subalterno como se fosse meritocracia. Como se ter pele preta fosse indicativo de merecimento da subalternidade. Esse equívoco perdurou por tempo demais e é preciso reparar.
Como? Jogar fora as lentes do preconceito é um bom começo. Mas, não basta! É preciso ajustar as novas lentes pelo ethos divino. Um ethos que estabelece a igualdade, que percebe os seres humanos como uma raça só: a humana. O que importa não é a cor da pele e o tamanho do frizz do cabelo, mas é a condição humana.
Por isso, precisamos falar desse assunto, infelizmente. Porque ainda não ficou claro o suficiente, que o que nos separa uns dos outros não é a cor da pele, mas são as arrogâncias. Essas que levam as supostas superioridades a escravizarem e humilhar uns em benefício de outros. Infelizmente há gente demais que ainda não percebeu que além de antiético, esse jeito seletivo por cor de pele, seja na relação ou nos gracejos, é de extrema feiura.
Assim sendo, esse assunto ainda precisa trazer à tona sentimentos de indignação, que cutuquem lá dentro, provocando uma indigestão na alma. É preciso levantar vozes para gritar das entranhas o intolerável, que uma normatização cultural da supremacia branca é vergonhosa, desumana, anticristã e antiética.
Certa vez uma garotinha preta, cerca de quatro anos, estando no Jardim de infância de uma escola privada, ouviu de sua coleguinha branca: “Você tem que me obedecer. Porque você é negra, é minha escrava”. Como assim? Como pode uma criança tão pequena verbalizar algo tão perverso e terrível? Infelizmente ela captou, herdou esse conceito desumano de seu contexto social e cultural.
Lamentavelmente, o racismo está estruturado e entranhado na história cultural dos povos e continua alcançando os nossos dias. Isso precisa mudar e todos somos responsáveis por essa mudança. Vamos parar de esbranquiçar a linda negritude! Vamos parar de dizer, que o cabelo do negro é ruim, que o nariz é feio e que o caráter é questionável. Vamos parar de dizer que aquela menina até que é bonitinha, pois não é bem negra, apenas moreninha. Vamos parar de dizer que esse negro é dos bons, pois tem alma de branco. Vamos parar de dizer que negro é tudo igual, quando não apronta na entrada, apronta na saída. Para quem a ficha ainda não caiu, segue um alerta: essas são escancaradas manifestações de racismo!
Por isso ainda precisamos tocar nesse assunto, até que a ficha caia para todos, e tenhamos erradicado o racismo das relações humanas. É preciso parar com o racismo e entender que não é de Deus, não é cristão, não é ético, não é humano! É necessário compreender que o preto e a preta carregam na pele, nos olhos, no nariz, na boca, no coração e na alma a imagem e semelhança do Criador, na mesma magnitude que qualquer outro ser humano, seja branco, vermelho, amarelo ou qualquer outra cor. Um assunto ainda indispensável para se abordar em cultos, missas, celebrações, aulas, palestras e reuniões diversas. E quando a ênfase não estiver somente em discursos, mas eclodir na vida prática, quem sabe terá chegado o tempo em que não precisemos mais tocar nesse assunto. Enfim enxergaremos por um cristalino divino de que todos SOMOS IGUAIS!
Clarice Ebert