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“RITUAL VIRTUAL: adaptações a um novo cenário”

Artigos e Notícias

O período de quarentena nos trouxe um novo dilema: como dizer adeus sem os tradicionais rituais de despedida?
A necessidade de cuidar dos nossos mortos nos acompanha. Tanto animais quanto humanos fazemos rituais de despedida.
A função de um velório é permitir que as pessoas estejam juntas, compartilhem emoções, falem da pessoa falecida e exercitem dizer adeus.
Vivemos um momento em que os velórios estão cercados de precauções antissépticas, tornando o contexto frígido: duração de até 2 horas, no máximo 10 pessoas, mantidas a um metro de distância, caixões fechados, agentes funerários com vestimenta de EPI, proibição de envio dos corpos das pessoas que morrem no exterior.
A ideia do velório digno, bonito, concorrido, a existência das últimas homenagens clama a ser repensadas. Isto nos remete às perdas em Brumadinho, pós rompimento da barragem da Vale.
Estes impactos são precedidos, em muitos casos, do adoecer e falecer no isolamento. A causa mortis fica pouco esclarecida, além de muita imaginação em torno dos momentos derradeiros: falou algo? Sentiu dor? Estas e outras interrogações tender a ser preenchidas com respostas negativas. Os abalos ficam exacerbados.
Este cenário de escuridão pode ser iluminado por nossa capacidade criativa de construir soluções. A convocação é que possamos desenvolver rituais e cerimônias de despedidas simbólicas. Elas não têm protocolo e podem surgir diante de tantos limites, que também nos impulsiona a nos conectar com as possibilidades.
A questão é criar e cultivar intimidade e delicadeza diante de restrições tão fortes.
As cerimônias de despedida podem ser cuidadas e oferecidas posteriormente. As pessoas podem se conectar virtualmente em homenagem ao falecido, indo além das proibições necessárias. Conversar, compartilhar as lembranças e os momentos de convívio que a pessoa deixou. Tocar as músicas da sua preferência. Escolher um alimento que era do gosto do ente querido e se alimentar, simultaneamente, em reuniões on-line. São exercícios de comunhão. É possível o uso de fotos, vídeos e mensagens. São algumas opções, entre outras possíveis, que nos inspire a realizar ações práticas e que sejam significativas.
Movimentos temperados com sensibilidade, regulando para que não seja nem demais e nem de menos, validando o entrelaçamento de histórias de vidas. É a atenção à diferença que faz diferença e se evidencia nos detalhes de como agir.
Esta é a função do simbólico que reúne, dignifica, transforma esta travessia em cuidado e alento, honrando os rituais e enriquecendo a nossa tarefa de aceitar e ir além dos limites auto impostos e os transformar, criativamente, em ações possíveis, reavaliando valores e os sentidos do viver.
E assim vamos ressignificar nossas despedidas.

Gláucia Tavares

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