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PSIQUIATRIA E CRISTIANISMO, por Uriel Heckert

Artigos e Notícias

Introdução

Sabe-se que a época do Renascimento foi decisiva para o desenvolvimento da humanidade.Rompendo com velhas tradições,introduziu uma nova visão de mundo que ensejou o processo do conhecimento em suas várias frentes.

Autores reconhecem que o vigoroso movimento religioso da Reforma,ocorrido neste fervilhar de inovações, foi muito importante.Ao mesmo tempo que cindia o foco hegemônico do poder religioso retomou os fundamentos da fé cristã, produzindo uma antropologia afirmativa.Isto abriu espaço para o avanço do conhecimento e o conseqüente desenvolvimento do que se conhece como ciência moderna.Não é de estranhar que esta produção humana emergente tivesse campo fértil principalmente nos países do norte da Europa,para onde migrou progressivamente(1).Mesmo sendo devedores aos gregos, é inegável que o Cristianismo foi o propulsor da nossa civilização,sendo revigorado nesse período da história.

O que sucedeu foi extremamente atraente, com a produção de uma saber nunca antes imaginado.Não é necessário evocar a pletora de inovações que os últimos séculos trouxeram, com as mudanças substanciais em todos os aspectos da vida.Na verdade o filão parece inesgotável,surpreendendo-nos a cada dia com novas descobertas e avanços nos vários campos de intervenção humana.

Em nossa área específica, se já absorvemos muito daquilo que a ciência tem produzido, temos ainda enormes possibilidades.A fronteira do cérebro é o desafio do nosso tempo,sendo-nos permitido antever mudanças radicais nas teorias e práticas das nossa profissão.Somos devedores, portanto,e o seremos ainda mais, àquilo que a racionalidade tem produzido.

A Posição anti-religiosa

A Psiquiatria é uma ciência de aparecimento relativamente recente.É corrente situar o seu surgimento como saber organizado no final do Século XVIII, bem caracterizado no gesto libertário de Philipe Pinel.A Revolução Francesa estava recente, com sua ênfase nos princípios humanísticos.E o pano de fundo,é fácil perceber, era o iluminismo(2).

A nova ciência bebe dessas fontes.Segundo muitos, nasce para atender aos interesses de grupos emergentes, prestando-se como instrumento de dominação social.É,portanto, filha da sua época.

Ora, sabe-se que a afirmação radical do potencial humano levava, à época, ao desprezo

de qualquer referência ao religioso.O vigor do realinhamento doutrinário trazido pela Reforma já perdera espaço diante do fascínio que as produções humanas exerciam.E o homem, na sua crescente onipotencia,colocava-se como “a medida de todas as coisas”, no dizer de Kant(3).

Não é de estranhar,portanto, que a Psiquiatria tenha se desenvolvido sem qualquer ligação com a religião.Talvez até tenha buscado afirmação numa atitude de oposição, já que disputava espaço diante das velhas crenças que vinculavam a doença mental a fenômenos de natureza espiritual.

A Psicologia, saber correlato, surge um pouco depois, procurando base científica na pesquisa empírica, já sob clara influencia do pensamento positivista.Este era sabidamente desdenhoso para com o que relacionava aos chamados períodos pré-científicos do conhecimento,contribuindo,assim para consolidar aquela posição crítica.

A Psicanálise é também herdeira de seu tempo.Podemos considerá-la devedora às correntes evolucionistas do século passado(Darwin, Spencer), que sustentaram debates acirrados com os religiosos da época.Isto, sem dúvida, contribuiu para que se reforçassem os preconceitos anti-religiosos.Mas foi sobretudo na crítica à moral, em especial à moral vitoriana justificada em argumentos religiosos, que o embate mostrou se mais radical.Nietzsche é o pensador de referencia, com que Freud teria muitos pontos em comum.

Chega-se, assim, a uma posição de franca hostilidade à religião,tomando-se por patológico e indesejável qualquer menção à crença. O Cristianismo passa a sem mal visto e apontado como o vilão da civilização ocidental.Seus personagens exponenciais foram alvo de análise psicológica e as expressões de consagradas virtudes foram esmiuçadas pela crítica.Destacava-se a psicopatologia e desdenhava-se da santidade(4).

A conseqüência natural foi a repressão de qualquer conteúdo religioso explícito.As expressões de culto foram deslocadas para a esfera do mundo privado, enquanto o panteão era ocupado pelos deuses da razão e do desejo.Pode-se, assim, desconhecer nos meios psiquiátricos uma das experiências humanas mais radicais, interpretando-a de forma preconceituosa.
A Posição revista

Vivemos hoje um outro momento.A crença na possibilidade de que tenhamos todos os problemas da humanidade resolvidos pela razão já está superada.A afirmação unilateral da força do homem tem levantado questões éticas de grande significado, ligadas à própria sobrevivência da humanidade.Tudo isso aconselha uma revisão dos radicalismos anteriores.

Busca-se,com insistência, uma visão integradora do ser humano.A religião reaparece com grande vigor e, como todo conteúdo reprimido, ressurge como algo irruptivo, anárquico, mas com força suficiente para chamar nossa atenção.

Que direção tomará esse fenômeno universal?No campo da Psiquiatria seria de se esperar uma revalorização de correntes intimistas.Jung aparece, por certo, como pensador de crescente influência já que valorizou o dado religioso, mesmo reduzindo-o aos limites dos conteúdos psíquicos.Surgem,porém,alguns indicadores preocupantes.

O rompimento com o racionalismo arraigado parece estar criando uma situação ambígua.Por um lado, não se abre mão da ciência, investindo-se grande soma de recursos materiais e humanos na busa de novos avanços, como ocorre no campo das neurociências.Admite-se que este é o terreno da objetividade,no qual busca-se um rigor metodológico cada vez maior.Por outro lado, sente-se atração pelo imponderável e abre-se espaço para práticas mágicas, despidas de critérios e que ficam à margem de qualquer verificação racional.Podemos estar presenciando uma “esquizofrenia” do conhecimento.

E mais.Com a crítica aos cientificismo tende-se a rejeitar a cultura ocidental no seio da qual a ciência se desenvolveu.Também poder-se-á tomar como ultrapassado o Cristianismo por ter sido ele o referencial para a consolidação dessa cultura.Isto parece particularmente grave,pois ao romper com o critério de verdade que dá consciência ao nosso saber,abre espaço para contéudos e práticas de origem e precisão duvidosas,alheias à nossa visão de mundo, aos nossos princípios e valores.Se corretamente preocupamo-nos com as culturas de povos minoritários,ameaçadas e desfiguradas,que dizer do nosso futuro?

Temos,portanto, diante de nós alguns riscos consideráveis.Poderemos perder a base científica,racional,que sustenta nossas concepções e nossa prática profissional,com a conseqüente falta de parâmetros e de objetividade.Já vemos isto acontecer quando se emprega determinados recursos terapêuticos sem a devida discussão da sua fundamentação científica;apenas afirma-se que funcionam.Por outro lado,seguindo este caminho,estaremos abertos à incorporação de práticas alheias à nossa cultura,fundamentadas em diferentes visões de mundo.Muitas delas são introduzidas sem o questionamento dos pressupostos filosóficos e religiosos que as sustentam,diferentes e muitas vezes conflitantes com aqueles que temos incorporado.

Por tudo isso, julgamos de todo interesse para o contínuo desenvolvimento científico no campo da Psiquiatria que se reafirmem os postulados do Cristianismo.Por esta via estará preservada a sustentação dourinária para a expansão das pesquisas e práticas científicas.Além do que estar-se-à abrindo espaço para a incorporação esclarecida dos elementos do sagrado que hoje se requer(5).
Possibilidades de Intercessão

Como já foi dito, “a Psiquiatria atravessa uma das fases mais excitantes, criativas e produtivas de sua longa história”(6).Como ciência,não deve ficar alheia aos outros campos de pesquisa que se desenvolvem à sua volta.Por seu turno, a teologia cristã tem desenvolvido ao longo de séculos um acúmulo respeitável de saber, como rigor metodológico e erudição,capaz de um diálogo de alto nível em outras áreas do conhecimento.Para fins práticos,todo esse cabedal presta-se facilmente à articulação que se propõe,tendo como ponto central de encontro a Antropologia.

J.Harold Ellens, autor que tem dedicado inúmeros trabalhos à questão da articulação das ciências psi com a teologia cristã, propõe quatro pontos de intersecção possíveis.São suas as palavras:”Vejo a teologia e a psicologia como perspectivas ou pontos de referência ,com diferentes universos de discursos,lidando com o mesmo assunto.Interagem em quatro níveis na busca pela verdade a respeito de seu objetivo:no nível teórico de suposições, conceitos e definição de teoria,no de pesquisa metodológica,no de banco de dados(que dados procurar,como procurar e como aparecem) e nível de experiência clínica.”Para concluir:”Seu tema comum é a condição humana.Interseccionam-se,por isso,na antropologia que funciona ou se forma em todos os níveis de intercessão acima citados.”(7).

Não podemos deixar de apontar, ainda, a importância da fundamentação cristã para o desenvolvimento da ética.Sem pretender que a postulação axiológica restrinja-se aos dados de fé,é inegável que o Cristianismo tem no seu cerne a noção de dignidade da pessoa humana,fundamental para modular as intervenções clínicas e as pesquisas.Com o advento de recursos terapêuticos cada vez mais específicos e radicais,é de se prever que cada vez necessitaremos de maior segurança no manuseio dos mesmos.Assim,este será sempre um ponto de encontro e elucidação mútua.
Conclusão

Devemos admitir que por muito tempo tivemos a ciência no lugar de Deus.Hoje,percebendo melhor as limitações daquela e até mesmo os seus riscos,podemos tomá-la no seu devido lugar.Quem ocupará o lugar vago da divindade?Caso não nos acheguemos ao Deus pessoal e único fatalmente erigiremos outro em seu lugar.Assim sendo,consideramos urgente o resgate do contéudo básico da fé cristã,tal qual se encontra nas Escrituras Sagradas,sem o que correremos o risco de nos perder com a nossa própria ciência.

Paul Tillich considera que é a religião que provê o arcabouço para o desenvolvimento da cultura e, consequentemente, da ciência.O resgate da Antropologia bíblica,de ênfase mais globalizante e integradora,poderá fecundar positivamente a visão grega que tem dominado no nosso modelo de ciência.Esta será assim enriquecida e avançaremos provocados pelos desafios do tempo presente.
Referências Bibliográficas

1. BEN-DAVID,J.O Papel do Cientista na Sociedade Pioneira.
Ed da USP,São
São Paulo,1974
2. BERCHERIE,P.Los Fudamentos de la Clínica,Ed.Manatial,
Buenos Aires,1986
3. KANT,I. Crítica da Razão Pura.Col Os Pensadores, 2@.Ed.Abril Cultural,
4.
São Paulo.
5. BINGEMER,M.C.L.A Sedução do Sagrado.In:Atualidade em Debate,Caderno 1.Centro João XXIII,
6. Rio de Janeiro,s.d.,pp.37-54. HERNÁNDEZ,C.J.OLugardoSagradoNaTerapia.Ed.Nascente/CPPC,
7. São Paulo,1986
8. SABSHIN,M.Introdução.In:TALBOTT, J. & Col.Tratado de Psiquiatria Ed.Artes Médicas,
9. Porto Alegre,1992,p.1
7 ELLENS,J.H.Graça de Deus e Saúde Humana.Ed.Sinodal/CCPC,
São Leopoldo,RS, 1982
Psicoteologia.Ed.Sinodal/CPPC,São Leopoldo,RS,1986

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Introdução

Sabe-se que a época do Renascimento foi decisiva para o desenvolvimento da humanidade.Rompendo com velhas tradições,introduziu uma nova visão de mundo que ensejou o processo do conhecimento em suas várias frentes.

Autores reconhecem que o vigoroso movimento religioso da Reforma,ocorrido neste fervilhar de inovações, foi muito importante.Ao mesmo tempo que cindia o foco hegemônico do poder religioso retomou os fundamentos da fé cristã, produzindo uma antropologia afirmativa.Isto abriu espaço para o avanço do conhecimento e o conseqüente desenvolvimento do que se conhece como ciência moderna.Não é de estranhar que esta produção humana emergente tivesse campo fértil principalmente nos países do norte da Europa,para onde migrou progressivamente(1).Mesmo sendo devedores aos gregos, é inegável que o Cristianismo foi o propulsor da nossa civilização,sendo revigorado nesse período da história.

O que sucedeu foi extremamente atraente, com a produção de uma saber nunca antes imaginado.Não é necessário evocar a pletora de inovações que os últimos séculos trouxeram, com as mudanças substanciais em todos os aspectos da vida.Na verdade o filão parece inesgotável,surpreendendo-nos a cada dia com novas descobertas e avanços nos vários campos de intervenção humana.

Em nossa área específica, se já absorvemos muito daquilo que a ciência tem produzido, temos ainda enormes possibilidades.A fronteira do cérebro é o desafio do nosso tempo,sendo-nos permitido antever mudanças radicais nas teorias e práticas das nossa profissão.Somos devedores, portanto,e o seremos ainda mais, àquilo que a racionalidade tem produzido.

A Posição anti-religiosa

A Psiquiatria é uma ciência de aparecimento relativamente recente.É corrente situar o seu surgimento como saber organizado no final do Século XVIII, bem caracterizado no gesto libertário de Philipe Pinel.A Revolução Francesa estava recente, com sua ênfase nos princípios humanísticos.E o pano de fundo,é fácil perceber, era o iluminismo(2).

A nova ciência bebe dessas fontes.Segundo muitos, nasce para atender aos interesses de grupos emergentes, prestando-se como instrumento de dominação social.É,portanto, filha da sua época.

Ora, sabe-se que a afirmação radical do potencial humano levava, à época, ao desprezo

de qualquer referência ao religioso.O vigor do realinhamento doutrinário trazido pela Reforma já perdera espaço diante do fascínio que as produções humanas exerciam.E o homem, na sua crescente onipotencia,colocava-se como “a medida de todas as coisas”, no dizer de Kant(3).

Não é de estranhar,portanto, que a Psiquiatria tenha se desenvolvido sem qualquer ligação com a religião.Talvez até tenha buscado afirmação numa atitude de oposição, já que disputava espaço diante das velhas crenças que vinculavam a doença mental a fenômenos de natureza espiritual.

A Psicologia, saber correlato, surge um pouco depois, procurando base científica na pesquisa empírica, já sob clara influencia do pensamento positivista.Este era sabidamente desdenhoso para com o que relacionava aos chamados períodos pré-científicos do conhecimento,contribuindo,assim para consolidar aquela posição crítica.

A Psicanálise é também herdeira de seu tempo.Podemos considerá-la devedora às correntes evolucionistas do século passado(Darwin, Spencer), que sustentaram debates acirrados com os religiosos da época.Isto, sem dúvida, contribuiu para que se reforçassem os preconceitos anti-religiosos.Mas foi sobretudo na crítica à moral, em especial à moral vitoriana justificada em argumentos religiosos, que o embate mostrou se mais radical.Nietzsche é o pensador de referencia, com que Freud teria muitos pontos em comum.

Chega-se, assim, a uma posição de franca hostilidade à religião,tomando-se por patológico e indesejável qualquer menção à crença. O Cristianismo passa a sem mal visto e apontado como o vilão da civilização ocidental.Seus personagens exponenciais foram alvo de análise psicológica e as expressões de consagradas virtudes foram esmiuçadas pela crítica.Destacava-se a psicopatologia e desdenhava-se da santidade(4).

A conseqüência natural foi a repressão de qualquer conteúdo religioso explícito.As expressões de culto foram deslocadas para a esfera do mundo privado, enquanto o panteão era ocupado pelos deuses da razão e do desejo.Pode-se, assim, desconhecer nos meios psiquiátricos uma das experiências humanas mais radicais, interpretando-a de forma preconceituosa.
A Posição revista

Vivemos hoje um outro momento.A crença na possibilidade de que tenhamos todos os problemas da humanidade resolvidos pela razão já está superada.A afirmação unilateral da força do homem tem levantado questões éticas de grande significado, ligadas à própria sobrevivência da humanidade.Tudo isso aconselha uma revisão dos radicalismos anteriores.

Busca-se,com insistência, uma visão integradora do ser humano.A religião reaparece com grande vigor e, como todo conteúdo reprimido, ressurge como algo irruptivo, anárquico, mas com força suficiente para chamar nossa atenção.

Que direção tomará esse fenômeno universal?No campo da Psiquiatria seria de se esperar uma revalorização de correntes intimistas.Jung aparece, por certo, como pensador de crescente influência já que valorizou o dado religioso, mesmo reduzindo-o aos limites dos conteúdos psíquicos.Surgem,porém,alguns indicadores preocupantes.

O rompimento com o racionalismo arraigado parece estar criando uma situação ambígua.Por um lado, não se abre mão da ciência, investindo-se grande soma de recursos materiais e humanos na busa de novos avanços, como ocorre no campo das neurociências.Admite-se que este é o terreno da objetividade,no qual busca-se um rigor metodológico cada vez maior.Por outro lado, sente-se atração pelo imponderável e abre-se espaço para práticas mágicas, despidas de critérios e que ficam à margem de qualquer verificação racional.Podemos estar presenciando uma “esquizofrenia” do conhecimento.

E mais.Com a crítica aos cientificismo tende-se a rejeitar a cultura ocidental no seio da qual a ciência se desenvolveu.Também poder-se-á tomar como ultrapassado o Cristianismo por ter sido ele o referencial para a consolidação dessa cultura.Isto parece particularmente grave,pois ao romper com o critério de verdade que dá consciência ao nosso saber,abre espaço para contéudos e práticas de origem e precisão duvidosas,alheias à nossa visão de mundo, aos nossos princípios e valores.Se corretamente preocupamo-nos com as culturas de povos minoritários,ameaçadas e desfiguradas,que dizer do nosso futuro?

Temos,portanto, diante de nós alguns riscos consideráveis.Poderemos perder a base científica,racional,que sustenta nossas concepções e nossa prática profissional,com a conseqüente falta de parâmetros e de objetividade.Já vemos isto acontecer quando se emprega determinados recursos terapêuticos sem a devida discussão da sua fundamentação científica;apenas afirma-se que funcionam.Por outro lado,seguindo este caminho,estaremos abertos à incorporação de práticas alheias à nossa cultura,fundamentadas em diferentes visões de mundo.Muitas delas são introduzidas sem o questionamento dos pressupostos filosóficos e religiosos que as sustentam,diferentes e muitas vezes conflitantes com aqueles que temos incorporado.

Por tudo isso, julgamos de todo interesse para o contínuo desenvolvimento científico no campo da Psiquiatria que se reafirmem os postulados do Cristianismo.Por esta via estará preservada a sustentação dourinária para a expansão das pesquisas e práticas científicas.Além do que estar-se-à abrindo espaço para a incorporação esclarecida dos elementos do sagrado que hoje se requer(5).
Possibilidades de Intercessão

Como já foi dito, “a Psiquiatria atravessa uma das fases mais excitantes, criativas e produtivas de sua longa história”(6).Como ciência,não deve ficar alheia aos outros campos de pesquisa que se desenvolvem à sua volta.Por seu turno, a teologia cristã tem desenvolvido ao longo de séculos um acúmulo respeitável de saber, como rigor metodológico e erudição,capaz de um diálogo de alto nível em outras áreas do conhecimento.Para fins práticos,todo esse cabedal presta-se facilmente à articulação que se propõe,tendo como ponto central de encontro a Antropologia.

J.Harold Ellens, autor que tem dedicado inúmeros trabalhos à questão da articulação das ciências psi com a teologia cristã, propõe quatro pontos de intersecção possíveis.São suas as palavras:”Vejo a teologia e a psicologia como perspectivas ou pontos de referência ,com diferentes universos de discursos,lidando com o mesmo assunto.Interagem em quatro níveis na busca pela verdade a respeito de seu objetivo:no nível teórico de suposições, conceitos e definição de teoria,no de pesquisa metodológica,no de banco de dados(que dados procurar,como procurar e como aparecem) e nível de experiência clínica.”Para concluir:”Seu tema comum é a condição humana.Interseccionam-se,por isso,na antropologia que funciona ou se forma em todos os níveis de intercessão acima citados.”(7).

Não podemos deixar de apontar, ainda, a importância da fundamentação cristã para o desenvolvimento da ética.Sem pretender que a postulação axiológica restrinja-se aos dados de fé,é inegável que o Cristianismo tem no seu cerne a noção de dignidade da pessoa humana,fundamental para modular as intervenções clínicas e as pesquisas.Com o advento de recursos terapêuticos cada vez mais específicos e radicais,é de se prever que cada vez necessitaremos de maior segurança no manuseio dos mesmos.Assim,este será sempre um ponto de encontro e elucidação mútua.
Conclusão

Devemos admitir que por muito tempo tivemos a ciência no lugar de Deus.Hoje,percebendo melhor as limitações daquela e até mesmo os seus riscos,podemos tomá-la no seu devido lugar.Quem ocupará o lugar vago da divindade?Caso não nos acheguemos ao Deus pessoal e único fatalmente erigiremos outro em seu lugar.Assim sendo,consideramos urgente o resgate do contéudo básico da fé cristã,tal qual se encontra nas Escrituras Sagradas,sem o que correremos o risco de nos perder com a nossa própria ciência.

Paul Tillich considera que é a religião que provê o arcabouço para o desenvolvimento da cultura e, consequentemente, da ciência.O resgate da Antropologia bíblica,de ênfase mais globalizante e integradora,poderá fecundar positivamente a visão grega que tem dominado no nosso modelo de ciência.Esta será assim enriquecida e avançaremos provocados pelos desafios do tempo presente.
Referências Bibliográficas

1. BEN-DAVID,J.O Papel do Cientista na Sociedade Pioneira.
Ed da USP,São
São Paulo,1974
2. BERCHERIE,P.Los Fudamentos de la Clínica,Ed.Manatial,
Buenos Aires,1986
3. KANT,I. Crítica da Razão Pura.Col Os Pensadores, 2@.Ed.Abril Cultural,
4.
São Paulo.
5. BINGEMER,M.C.L.A Sedução do Sagrado.In:Atualidade em Debate,Caderno 1.Centro João XXIII,
6. Rio de Janeiro,s.d.,pp.37-54. HERNÁNDEZ,C.J.OLugardoSagradoNaTerapia.Ed.Nascente/CPPC,
7. São Paulo,1986
8. SABSHIN,M.Introdução.In:TALBOTT, J. & Col.Tratado de Psiquiatria Ed.Artes Médicas,
9. Porto Alegre,1992,p.1
7 ELLENS,J.H.Graça de Deus e Saúde Humana.Ed.Sinodal/CCPC,
São Leopoldo,RS, 1982
Psicoteologia.Ed.Sinodal/CPPC,São Leopoldo,RS,1986

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