PRESENTEAR COMO GESTO DE GRATIDÃO E GENEROSIDADE, por Rosely Jorge
Em uma sociedade cada vez mais individualista, a arte de presentear se torna cada dia mais sofisticada, requintada, com inúmeras facilidades encontradas em um mundo em que o “fast”, o instantâneo e a massificação predominam e muitas vezes, estão a serviço de interesses pessoais e profissionais, esvaziando e tornando banal o sentido maior existente, sempre que presenteamos ou somos presenteados.
O dom de presentear
Ao contrário do que muitos pensam, presentear não é um caminho de mão única, pois presentear é um dom, uma dádiva que enriquece a quem dá, mais do que a quem recebe. Estranha matemática, não é mesmo? Fica fácil compreender que nos relacionamentos a matemática é outra ao nos defrontarmos com a nossa própria capacidade de acolher e ser acolhido, demonstradas no simples ato de presentear.
O presente como forma de acolhida e agradecimento
Presentear, mais do que uma arte, é um dom que nos coloca à prova: o quanto somos agradecidos. O agradecimento revela uma das dimensões mais profundas do ser humano e se formos pensar genuinamente, o maior presente que recebemos, a vida, nos é dada gratuitamente. Não nos damos à existência, a recebemos de outros. Fomos concebidos, recebidos e cuidados por outros. A nossa dependência gera em nós a gratidão, pois sabemos e sentimos que dependemos psicológica e socialmente da aceitação dos outros. Essa ligação com o outro é tão fundamental que até poderíamos dizer que vivemos à mercê do dom, quer dizer, da acolhida generosa por parte dos outros.
A essência do dom é dar e receber por pura gratuidade, independentemente de qualquer outro aspecto envolvido: o quanto detemos o conhecimento, o quanto ganhamos ou dispomos para gastar. Somos o dom, doando-nos: nosso tempo, nossa atenção, nosso carinho, nossa vida. Dom se paga com dom. Por isso, agradecidos, nos doamos também ao outro. Esta mútua doação significa amizade, amor e por que não dizer, a alegria na vida.
O simbolismo contido no dom de presentear
As coisas nunca são apenas coisas. São portadoras de significações simbólicas. De forma semelhante, é rico o simbolismo contido nos presentes. Eles são carregados de significados. O presente produz a presença de outros em nossa vida e de nossa vida na vida de outros. O presente é portador de uma mensagem e revela muito de nossa essência.
O presente e a celebração
Sempre que há o verdadeiro encontro com o outro, temos a necessidade de compartilhar o que somos, pensamos, sentimos e temos. Nos momentos de comunhão, a essência da vida que se manifesta em nós, de forma singular e única, é celebrada num ciclo contínuo e pulsante, que se perpetua com o dar, receber e retribuir, nos projetando para um estado de amplo bem estar e, sem mais nem porque, nos percebemos gratos e felizes.
O hábito adquirido de presentarmos no Natal
Em 25 de dezembro o mundo comemora o Natal, que é o nascimento de Jesus, Aquele que mais claramente e sem titubear nos deixou o exemplo vivo, marcante e eterno do real significado do presentear, pois há mais de 2000 anos comemoramos e confraternizamos dentro de um espírito de paz e generosidade, a comunhão entre os homens. Lembramos, pelo menos neste dia, o quanto esta necessidade está impressa em nosso espírito e se verdadeiramente a praticarmos, sem apego aos apelos comerciais da época e sim orientados e mobilizados pelos significados que damos a cada relacionamento a nossa volta, a gratidão e a generosidade encontram seu lugar como expressão do amor em nossas vidas, lição está que Jesus doando a sua própria vida, nos ensinou para que hoje, tomando posse desta dádiva que é poder presentear, fossemos mais felizes.
Rosely Jorge é psicóloga clínica e organizacional