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OS SALMOS E OS CONSELHEIROS CRISTÃOS, por Elizabeth C. Gomes

Artigos e Notícias

Morrendo de cansaço, faz uma leitura rápida de um salmo antes de dormir. Leu a Bíblia. Dever cumprido. Quantas vezes já fiz isso! É provável que você também tenha de admitir exssperiência semelhante. Ignoramos a profundidade teológica dos salmos com uma atitude displicente de tratá-los apenas como “bonitos versos espirituais”.

Quando nos mudamos para o apartamento em que morávamos, encontrei um pedaço de papel enrolado, enfiado numa fresta entre a batente da porta e a parede. Ia jogar fora quando meus olhos viram o que estava escrito: o cântico da dedicação da casa que é o Salmo 30. Não sei se o antigo morador o colocou ali mais como uma mezuza ou mandinga, ou porque realmente dedicara sua residência a Deus, mas lá estava o salmo, e resolvi deixá-lo sossegado como lembrete de que minha casa e vida pertencem ao meu Criador.

Os salmos foram escritos para serem cantados, declamados, lidos e remoídos nas madrugadas frias ou na calada da noite de uma alma, nas horas festivas de coroações e casamentos e nos momentos de solidão de masmorra e morte. Ignoramos a dimensão do conhecimento da alma humana em face ao Deus eterno quando superficializamos a leitura ou mesmo a recitação dos Salmos. Os Salmos expressam mais que uma esperança humana num deus distante: tratam mais de Deus do que com os homens, e apresentam o ponto de vista do próprio Deus sobre Ele mesmo, permitindo ao mesmo tempo que as pessoas expressem seus anseios, temores e dúvidas a um Deus presente, atuante, que se importa com os Seus e oferece resposta, intervindo na história humana. Por isso o psicólogo Dan Allendar e o teólogo Tremper Longman dizem juntos sobre os Salmos:

“Não existe seção da Bíblia que ensine-nos melhor a linguagem da alma humana que os Salmos, pois refletem os movimentos do coração humano com linguagem rica, evocativa e até mesmo alarmante. Numa voz que perturba, convida e desnuda, o salmista nos atrai à voz de Deus.”1
Num ministério de ajuda às pessoas, seja de capelania, pastorado ou psicologia clínica, é imprescindível que o ajudador conheça a si mesmo e suas motivações pessoais tanto quanto a ciência que é seu instrumento de trabalho. Sua profissão é também seu ministério, o que torna o gabinete pastoral, o consultório ou o grupo terapêutico uma faca de dois gumes. Por mais que queira separar o profissional do pessoal, os dois são parte do mesmo instrumento, e se este não estiver primeiramente sob o senhorio de Cristo, os cortes poderão ser de açougueiro ao invés de escultor, as fincadas de esgrimista em vez de plantador. Temos dificuldade em referir pessoas ao psicólogo que ignora o conhecimento de Jesus, aquele que conhecia como mais ninguém o coração humano (João 2:24). Isso porque o bom profissional é formado não apenas pela faculdade, pelo mentor e pela escola, mas pelos valores que constróem o arcabouço de tudo que ele é como pessoa. A psicóloga cristã não insere ou acrescenta “pérolas do conhecimento bíblico” como se fossem receitas da vovó ou do Lair Ribeiro: o profissional cristão parte de pressupostos de que existem soluções, de que há um Deus que se importa, de que o emaranhado de situações e disfunções que formam seu paciente (ou que seu paciente formou!) tem mais que uma resposta aos estímulos: é uma pessoa elaborada de modo “assombrosamente maravilhoso” por um Criador que tem carinho especial por sua obra (Salmo 139).

Isso me leva de volta aos salmos. Quando estamos visitando uma pessoa que sabe que vai morrer, não adianta dizermos chavões como “Tenha fé em Deus” e nem “Eu sei o que você está passando”. Melhor é escutá-lo e, quando ele pedir, compartilhar a Palavra de Deus. Um irmão contava que o pai estava moribundo e todos visitavam-no com uma “palavra de ânimo” de que ele seria curado, mas ele lhe disse, “Filho, manda essa gente embora! Como é que a gente sente quando morre? Como saber se estou pronto e ter coragem de me entregar? Queria que todos vocês soubessem como sinto… como amo… como não sei… ”

É aí que os salmos começam a penetrar o coração. Nas carências. Nas perguntas sem respostas. Nas frustrações ou sentimentos de que ctodos estão prontos para destrinchá-lo em pedaços! Ao moribundo o filho abriu os salmos e leu um, depois outro, depois outro… E viu-o partir resolvido.
No aconselhamento pessoal ou familiar, os salmos são exercício de auto conhecimento diante do trono de Deus. “Senhor, Tu me sondas e me conheces…” Os cinco livros de salmos (você sabia que o que tem na sua Bíblia é uma coletânea de cinco livros, setenta e três dos quais de autoria davídica, a maioria cantada no culto com elaboradas indicações musicais de um praticante da musicoterapia mil anos antes de Cristo?2) têm temática variada que passa por toda a gama da experiência humana. Têm riqueza teológica, função didática e aplicação.

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Elizabeth C. Gomes

 

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