O HOMOSSEXUAL DE ROMANOS 2, por Karl Kepler
Romanos 1.16-32
16 Eu não me envergonho do Evangelho, pois é o poder de Deus para salvar todos os que crêem; primeiro os judeus, e depois os não-judeus. Porque o Evangelho mostra que Deus nos aceita por meio da fé, do começo ao fim. Como dizem as Escrituras Sagradas: “Viverá aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus”. Romanos 1.18-32 é o texto bíblico mais utilizado quando se fala de homossexualismo no contexto cristão. O que ele ensina? Resumidamente, ele mostra uma “escada descendente, da degradação humana”, uma seqüência de quedas — que só pode mesmo terminar na morte. Esse processo é quase automático, desencadeado pela “ira de Deus contra todo pecado” humano. É parecido com a degradação do mundo rumo ao fim, descrita no Apocalipse: o modo de viver sem Deus já traz embutido a consequente degradação, que nada mais é do que a morte-salário do pecado. Provavelmente por isso é que Paulo, antes de descrever a “escada da morte em vida”, afirma que “a vida é pela fé”, único jeito de alcançar justiça perante Deus. Visto nesse trecho, o homossexualismo aparece realmente como uma das consequências do modo de vida humano, do “viver sem reconhecer Deus”. As relações entre homens são descritas como “vergonhosas” e acompanham outras “coisas sujas”, e é no próprio corpo que aparecem sinais da merecida condenação de Deus sobre a maldade. Isso tudo é verdade, mas não é tudo, especialmente se quisermos achar resposta para a pergunta: Como tratar os homossexuais no contexto cristão? Acho que aqui fomos traídos pela divisão em capítulos e em subtítulos, que não fazem parte do texto bíblico original. Todo comentarista diz que esse capítulo 1 de Romanos mostra como os gentios, pagãos, estão inquestionavelmente debaixo do pecado, e que no capítulo 2 Paulo mostra que os judeus também são demonstrados como pecadores indesculpáveis. Novamente, isso tudo é verdade. Mas a colocação de uma divisória entre o capítulo 1 e 2 nos atrapalha de entender toda a mensagem, que na verdade começou com 1.16 e 17, sobre o poder salvador do evangelho e a vida e justiça unicamente pela fé. Vejam os versículos imdediatamente seguintes, do início do cap. 2: 2.1-3 Meu amigo, você julga os outros? Não importa quem você seja, não tem desculpa de jeito nenhum. Porque, quando julga os outros e faz as mesmas coisas que eles fazem, você está condenando a você mesmo. Nós sabemos que Deus é justo quando condena os que fazem essas coisas. Mas você, meu amigo, faz as mesmas coisas que condena nos outros! Você pensa que escapará do julgamento de Deus? É muito cômodo nos distanciarmos da situação por nos referirmos aos gentios e aos judeus. Só que esse texto é dirigido também a nós, cristãos, que conhecem a palavra de Deus e procuram observá-la em seu viver (tal qual os judeus piedosos tentavam fazer também). Acho que esse questionamento de Paulo (que sublinhei no texto) nos ajudará a entender o espírito do texto todo, de Romanos 1 e 2. Como é que Deus pode dizer que “você faz as mesmas coisas que condena nos outros”?! Aplicado especificamente para o homossexualismo descrito — e condenado — versículos antes, isso quereria dizer: “você que condena o homossexualismo faz as mesmas coisas que os homossexuais”! (e o mesmo se aplica a todos os outros pecados mencionados; injustiça, avareza, contenda, calúnia….). Foi assim que voltei ao capítulo 1 para ver se o texto daria base para essa interpretação. O primeiro pecado do homem, na escada descendente, é a recusa a reconhecer Deus, o Criador, o que os levou a criar um “sabedoria louca” (1.20-23), que tenta criar substitutos para a imagem de Deus. A partir desse ponto o vs. 24 diz: ” por isso Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si” e reforça no vs. 26: “Por causa disso Deus os entregou a paixões infames…” e aí descreve a relação sexual homossexual, tanto de homens como de mulheres. Logo depois, no vs. 28, novamente diz que “Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes…” e aí vem a lista de vários pecados, da injustiça à falta de misericórdia. O que chama a atenção é que Rm 1 confirma, sim, a afirmação de Rm 2.3. Todos esses pecados, o homossexualismo entre eles, são descritos como alguma coisa que brota de dentro, do nosso próprio coração. A ira castigadora de Deus apenas “solta, libera” os homens para caírem na maldade que eles desejam praticar (e que traz a morte como consequência final, como “salário”). É por isso que Paulo pode nos acusar de sermos indesculpáveis quando julgamos quem quer que seja. O nosso coração é tão ruim, corrupto e pervertido quanto o dos avarentos, dos invejosos e também dos homossexuais. No sentido explícito de Rm 2.3, todos nós somos homossexuais! A diferença quanto ao nosso nível de comprometimento deve-se apenas à graça de Deus que nos segura, e à bondade de Deus que nos reaproxima do arrependimento. Por isso, mesmo sem chegarmos a todas as conclusões que gostaríamos, acho que temos bem explicada a atitude inicial necessária, tanto para discutir homossexualidade quanto para lidar com pessoas homossexuais: conforme Romanos 2 somos todos homossexuais, de coração. |