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O HOMOSSEXUAL DE ROMANOS 2, por Karl Kepler

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Romanos 1.16-32

16 Eu não me envergonho do Evangelho, pois é o poder de Deus para salvar todos os que crêem; primeiro os judeus, e depois os não-judeus. Porque o Evangelho mostra que Deus nos aceita por meio da fé, do começo ao fim. Como dizem as Escrituras Sagradas: “Viverá aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus”.
18 Nós vemos que o castigo de Deus cai do céu contra todo pecado e contra toda maldade dos seres humanos que, por meio das suas más ações, não deixam que a verdade seja conhecida. Deus os castiga porque o que eles podem conhecer a respeito dele está bem claro, pois foi o próprio Deus que mostrou isso a eles. Desde que Deus criou o mundo, as suas qualidades invisíveis, tanto o seu poder eterno como a sua natureza divina, têm sido vistos claramente. Os seres humanos podem ver tudo isso no que Deus tem feito e, portanto, eles não têm desculpa nenhuma. Embora conheçam a Deus, não lhe dão a honra que merece e não lhe são agradecidos. Ao contrário, acabaram pensando só em tolices, e as suas mentes vazias estão cheias de escuridão. Eles dizem que são sábios, mas são loucos. Em vez de adorarem ao Deus imortal, adoram ídolos que se parecem com seres humanos, ou com pássaros, ou com animais, inclusive os que se arrastam pelo chão.
24 E, porque esses seres humanos são assim tão loucos, Deus os entregou aos desejos dos seus corações para fazerem coisas sujas e para terem relações vergonhosas uns com os outros. Eles trocam a verdade de Deus pela mentira e adoram e servem o que Deus criou, em vez de adorarem e servirem o próprio Criador, que deve ser louvado para sempre. Amém.
26 Por causa do que essas pessoas fazem, Deus as entregou às paixões vergonhosas. Pois até as mulheres trocam as relações naturais pelas que são contra a natureza. E também os homens deixam as relações naturais com as mulheres e se queimam de paixão uns pelos outros. Homens têm relações vergonhosas uns com os outros e por isso recebem em si mesmos o castigo que merecem por causa da sua maldade.
28 E, como não querem saber do verdadeiro conhecimento a respeito de Deus, ele os entregou aos seus maus pensamentos para que façam o que não devem. Estão cheios de perversidade, maldade, avareza, vícios, ciúmes, crimes, lutas, mentiras e malícia. Difamam e falam mal uns dos outros. Odeiam a Deus e são atrevidos, orgulhosos e vaidosos. Inventam muitas maneiras de fazer o mal, desobedecem aos pais, são imorais, não cumprem a palavra, não têm amor por ninguém e não têm pena dos outros. Eles sabem que a Lei de Deus diz que quem vive assim merece a morte. Mas mesmo assim continuam a fazer essas coisas e, pior ainda, aprovam os que agem como eles.

Romanos 1.18-32 é o texto bíblico mais utilizado quando se fala de homossexualismo no contexto cristão. O que ele ensina?

Resumidamente, ele mostra uma “escada descendente, da degradação humana”, uma seqüência de quedas — que só pode mesmo terminar na morte. Esse processo é quase automático, desencadeado pela “ira de Deus contra todo pecado” humano. É parecido com a degradação do mundo rumo ao fim, descrita no Apocalipse: o modo de viver sem Deus já traz embutido a consequente degradação, que nada mais é do que a morte-salário do pecado.

Provavelmente por isso é que Paulo, antes de descrever a “escada da morte em vida”, afirma que “a vida é pela fé”, único jeito de alcançar justiça perante Deus.

Visto nesse trecho, o homossexualismo aparece realmente como uma das consequências do modo de vida humano, do “viver sem reconhecer Deus”. As relações entre homens são descritas como “vergonhosas” e acompanham outras “coisas sujas”, e é no próprio corpo que aparecem sinais da merecida condenação de Deus sobre a maldade. Isso tudo é verdade, mas não é tudo, especialmente se quisermos achar resposta para a pergunta: Como tratar os homossexuais no contexto cristão?

Acho que aqui fomos traídos pela divisão em capítulos e em subtítulos, que não fazem parte do texto bíblico original. Todo comentarista diz que esse capítulo 1 de Romanos mostra como os gentios, pagãos, estão inquestionavelmente debaixo do pecado, e que no capítulo 2 Paulo mostra que os judeus também são demonstrados como pecadores indesculpáveis. Novamente, isso tudo é verdade. Mas a colocação de uma divisória entre o capítulo 1 e 2 nos atrapalha de entender toda a mensagem, que na verdade começou com 1.16 e 17, sobre o poder salvador do evangelho e a vida e justiça unicamente pela fé. Vejam os versículos imdediatamente seguintes, do início do cap. 2:

2.1-3 Meu amigo, você julga os outros? Não importa quem você seja, não tem desculpa de jeito nenhum. Porque, quando julga os outros e faz as mesmas coisas que eles fazem, você está condenando a você mesmo. Nós sabemos que Deus é justo quando condena os que fazem essas coisas. Mas você, meu amigo, faz as mesmas coisas que condena nos outros! Você pensa que escapará do julgamento de Deus?

É muito cômodo nos distanciarmos da situação por nos referirmos aos gentios e aos judeus. Só que esse texto é dirigido também a nós, cristãos, que conhecem a palavra de Deus e procuram observá-la em seu viver (tal qual os judeus piedosos tentavam fazer também). Acho que esse questionamento de Paulo (que sublinhei no texto) nos ajudará a entender o espírito do texto todo, de Romanos 1 e 2. Como é que Deus pode dizer que “você faz as mesmas coisas que condena nos outros”?!

Aplicado especificamente para o homossexualismo descrito — e condenado — versículos antes, isso quereria dizer: “você que condena o homossexualismo faz as mesmas coisas que os homossexuais”! (e o mesmo se aplica a todos os outros pecados mencionados; injustiça, avareza, contenda, calúnia….).

Foi assim que voltei ao capítulo 1 para ver se o texto daria base para essa interpretação. O primeiro pecado do homem, na escada descendente, é a recusa a reconhecer Deus, o Criador, o que os levou a criar um “sabedoria louca” (1.20-23), que tenta criar substitutos para a imagem de Deus. A partir desse ponto o vs. 24 diz: ” por isso Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si” e reforça no vs. 26: “Por causa disso Deus os entregou a paixões infames…” e aí descreve a relação sexual homossexual, tanto de homens como de mulheres. Logo depois, no vs. 28, novamente diz que “Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes…” e aí vem a lista de vários pecados, da injustiça à falta de misericórdia.

O que chama a atenção é que Rm 1 confirma, sim, a afirmação de Rm 2.3. Todos esses pecados, o homossexualismo entre eles, são descritos como alguma coisa que brota de dentro, do nosso próprio coração. A ira castigadora de Deus apenas “solta, libera” os homens para caírem na maldade que eles desejam praticar (e que traz a morte como consequência final, como “salário”). É por isso que Paulo pode nos acusar de sermos indesculpáveis quando julgamos quem quer que seja. O nosso coração é tão ruim, corrupto e pervertido quanto o dos avarentos, dos invejosos e também dos homossexuais. No sentido explícito de Rm 2.3, todos nós somos homossexuais! A diferença quanto ao nosso nível de comprometimento deve-se apenas à graça de Deus que nos segura, e à bondade de Deus que nos reaproxima do arrependimento.

Por isso, mesmo sem chegarmos a todas as conclusões que gostaríamos, acho que temos bem explicada a atitude inicial necessária, tanto para discutir homossexualidade quanto para lidar com pessoas homossexuais: conforme Romanos 2 somos todos homossexuais, de coração.
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Karl Kepler é pastor, professor de teologia e psicólogo

 

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