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MEU ENCONTRO COM DEUS, por Carlos Hernández

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Como o Senhor me visita e como me relaciono com Deus? 
Como Nicodemus, eu me aproximo à noite. Busco a luz, mas tenho medo dela, pois ela revela a minha sombra que tenho dificuldade em assumir. Busco uma relação regressiva, um deus que me mima. Preciso suportar a cegueira momentânea da luz e exercitar a máxima atenção para escutar algo novo, surpreendente, que me transforma. Disciplinas espirituais me ajudam a ficar em silêncio, a prestar atenção, a estar alerta, a lidar com a ansiedade que me leva a me agarrar a idéias obsessivas. A atenção me permite discernir a ternura com a qual Deus me ama e as manifestações novas da visitação de Deus. Ela me permite estar presente às Presenças.
O encontro com um Deus trino, um Deus de relação me impede de tentar me apropriar do Outro, numa relação simbiótica, porque há um terceiro continuamente. Isto é o novo nascimento: a entrada numa realidade familiar. A relação com Deus gera em mim uma atitude adulta e responsável com o coração de uma criança, sem esquemas. A relação trinitária é transparente. A serpente em mim age sorrateiramente, de forma manipulativa. Como a Graça me alcança na minha condição de serpente?
Santidade é ter a coragem de encarar o réptil que há em mim e clamar por Deus. Por isto, ela inclui a experiência da cruz onde Cristo se humilhou. Só se supera o mal, absorvendo-o na cruz. Humildade não é uma construção intelectual, surge quando reconhecemos nossa inadequação. A Graça é ser amada nessa condição de réptil. Ela desmonta percepções falsas acerca de mim e do outro. A mão que me alcança e me toca no lugar mais frágil me obriga a enfrentar o medo de ser destruída e me salva. Ela opera uma restauração estrutural em mim que me liberta do domínio da visão e me permite voltar a ouvir a voz de Deus. É uma transformação contínua à medida que me abandono a ela. A tentação do Éden é a exclusão do terceiro. As disciplinas espirituais são o exercício diário do pacto de incluir o terceiro. Fé é fidelidade a este pacto, a este vínculo com Deus.
Deus me tira do Egito e me leva ao deserto. O Egito é a cultura da morte e investimento na escuridão, o conhecimento a serviço das pirâmides. Diante da morte, somos desafiados a sair para a vida, enfrentar o desconhecido, na dependência de Deus. No deserto, eu vou desconstruindo meus valores armando e desarmando a tenda, treinando a escuta e aprendendo a Graça, a provisão de Deus, a inclusão. Só posso experimentar o poder da ressurreição morrendo. A morte da morte é uma saída: morte dos meus esquemas e esconderijos, da minha mentalidade de escrava, das minhas fantasias. Isto supõe relação com Deus e responsabilidade.
Hoje, a vida comunitária prepara a manifestação de Deus entre nós.
O ser humano nasce inacabado. Ele tem uma necessidade biológica da família. Ele se constrói na relação. A família ensina o ser humano a regular suas necessidades biológicas. A trindade ensina ao ser humano a Graça. Há uma descontinuidade entre o natural e o cultural. Há também uma descontinuidade entre o humano e a Graça. A inclusão de Deus permite incluir o parceiro diferente que vem e me desnuda.
Precisamos escolher diariamente entre reforçar as defesas da cultura da morte ou seguir Deus no deserto. No deserto, a casca grossa do réptil vai abrindo espaço para a pele que me vulnerabiliza, mas permite a carícia.
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Carlos Hernández

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