secretaria@cppc.org.br 51 9-8191-0407

INTEGRANDO UM GRUPO EM TEMPOS DE VIOLÊNCIA, por Fátima Fontes

Artigos e Notícias

Introduzindo a questão:
Quando no início de 2002, planejamos nosso ano de atividades CPPC/ SP, em Araçariguama, mais especificamente na casa de nossos queridos Karl e Vera, muito longe do agito e da violência urbana, tínhamos clara a missão do ano: escarafunchar a questão da “cultura da desgraça” na qual estávamos e estamos imersos, e contrapô-la à salvadora Graça de Deus.
A partir desse eixo, surgiu o tema central de nossas discussões nos Núcleos Locais e na nossa Jornada Anual.

O primeiro passo
de Integração da Jornada

Coube a mim, a honrosa missão de integrar o grupo de pessoas presentes na nossa Jornada de 19 de Novembro. Gostaria agora de compartilhar o quanto  é esse um momento especial para mim, pois apesar da repetição do fato, não deixo de me encontrar sempre “encantada” com a condução de Deus nesses encontros. Sua suavidade e paz superabundaram entre nós, para que pudéssemos vivenciar o texto de Romanos 5:20: “Mas onde o pecado abundou, superabundou a graça”, que escolhemos para vir no folder da Jornada, logo abaio do tema geral.

E aí começa a delicada intervenção de Deus: nossa integração começou pelo fim. É que, devido a um atraso no início de nossas atividades, precisamos transferir a etapa da integração grupal para o início da tarde, mas aí o anjo enviado para nos trazer a palavra da manhã, a Maria do Céu (ela é enviada até no nome!!!), não participaria, daí , por inspiração do clima que já nos invadia, pus como música de fundo uma rica melodia do conjunto instrumental “Secret Garden” e solicitei que formássemos um caracol, tendo ao centro a nossa preletora da manhã, e a seu redor nos aninhássemos. Difícil traduzir em palavras o que sentimos – esse é um daqueles momentos indizíveis que atravessamos – mas posso asseverar: o Espírito de Deus passeou entre nós…

Passo dois da Integração: Cenas de um cotidiano de Violência Urbana,

Após esse “banho” de Graça Divina, já podíamos adentrar na difícil situação de nos confrontarmos com o cotidiano da violência, que já está sendo “banalizada” em nosso meio. Parece que, como rota de sobrevivência, o homem pós-moderno tem caído na perigosa armadilha da estratégia da anestesia social: “é preciso não sentir, senão se enlouquece” passou a ser uma das máximas de nosso tempo.

Mas, como grupo participante dessa jornada, queríamos estar diante da dolorosa verdade, buscando caminhos de vida e não de morte para superá-la.
Projetei então, numa transparência colorida, cenas aonde a violência era manchete na mídia escrita de São Paulo:

-HORIZONTE:  As Torres Gêmeas do World Trade Center logo após terem sido atingidas  por aviões seqüestrados, em 11 de setembro do ano passado.O local ainda estaria fumegando nos cem dias seguintes.

-VIOLÊNCIA: Estudo mapeia regiões da capital onde é maior a possibilidade de que jovens se envolvam com a delinqüencia. “Contágio” pelo crime ameaça extremos de SP.

-VIOLÊNCIA: Rebelião em FEBEM é controlada após 14 horas.

-BLINDADOS: Violência faz crescer a procura por mais segurança.

-Tiros na Paulista, um morto e muito medo .

-CORRENDO ATRÁS DA VIOLÊNCIA. Fátima Souza da Band, em reportagem sobre o “maníaco de Guarulhos”.

-Mulheres sem idade. Avanços da medicina congelam o tempo e criam a estética do rosto de boneca.

O grupo se subdividiu para discutir e dramatizar as cenas mais votadas:
O Atentado de 11 de Setembro, Correndo atrás da  Violência e “Contágio pelo crime”.

Passo Três: Processando a experiência

Nosso grupo criativamente dramatizou as cenas anteriormente escolhidas (destaques para Zenon e Cássio, que mostraram seu potencial espontâneo).
Havíamos então sentido, pensado e agido sobre a temática da violência.
Processar esta experiência, compartilhando o que vivêramos, levou-nos inicialmente a conhecer o grupo: haviam pessoas que trabalhavam no Sistema Judiciário; que desenvolviam trabalhos sócio-educacionais com população de alto-risco, e aqueles que compartilhavam medos e ansiedades de ser parte do contingente acuado das grandes cidades, precisando cuidar de outros na mesma situação.
Pudemos perceber ainda, que ao redor da “notícia de violência” há uma cidade que pulsa, com suas necessidades e possibilidades, e que nosso atônito olhar já não percebe.
Que precisamos nos mobilizar e participar dos programas comunitários e da Sociedade Civil Organizada e sobretudo vivermos e sermos arautos de um mundo menos intolerante e mais disponível a fazer do respeito ao outro, principalmente do “outro diferente de mim”, o lema das interrelações.
Ou seja, a ética cristã protestante precisa saltar de nossas páginas históricas, para ser encarnada por todos nós, num exercício cotidiano de protesto e militância por um mundo mais digno e mais justo.
Se contamos com o nosso justo Deus para nos fortalecer e guiar e com nosso irmão para lutar, precisamos de mais ???
_______________
Fátima Fontes

Copyright ©1976-2018 CPPC - Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos
Todo o conteúdo deste site é de uso exclusivo da CPPC.
Proibida reprodução ou utilização a qualquer título, sob as penas da lei.