CPPC – A RIQUEZA DE UMA PERTINÊNCIA, por Deusa Robles
“É na amizade que as profundezas da Sombra são sondadas com amor.” (Craig)
Há muitos anos atrás, quando eu ainda era uma psicóloga recém formada, cheia de ilusões, expectativas, presunções e pré-conceitos, conheci o CPPC. Confesso que na época não me interessei muito, pois acreditava que uma boa profissional em Psicologia deveria, antes de mais nada, procurar todo o Saber possível. Não qualquer saber, mas o saber científico, acadêmico; e esses conhecimentos não poderiam, pensava eu, vir de um grupo de amigos, muito bem intencionados, que se reuniam informalmente, de vez em quando, para muito mais falar de si, de suas experiências, de sua vida enfim, do que de teorias psicológicas, descobertas científicas e/ou grandes projetos acadêmicos.
Passei mais de 10 anos estudando. Frequentei importantes escolas de Psicologia Analítica. Participe, durante muitos anos, de grupos de estudos sobre a teoria de Carl Gustav Jung, depois sobre Filosofia e finalmente sobre James Hillman, sempre sob a coordenação de renomados profissionais da área. Enfim, conheci muita gente inteligente, intelectuais mesmo, em todo o sentido que esta palavra possa ter.
Mas me sentia muito solitária. Apesar de dividir o consultório com uma amiga, me sentia isolada, como que nadando contra a corrente. Parecia que por mais que aprendesse, nunca era o suficiente. Sentia como que um grande vazio profissional. Tinha pacientes, é claro, mas na maioria, indicações de outros pacientes, o que era muito bom, pois era a certeza do reconhecimento de um bom trabalho, mas muito pouco para o que eu podia produzir. E eu me orgulhava em fazer parte de tudo aquilo, em conhecer pessoas tão ilustres, me fechando naquele círculo, acreditando que ali estava tudo o que era preciso para desenvolver um bom trabalho. Parafraseando Salomão: pura vaidade.
Nem tudo daquilo servia a mim, mas eu, sim, servia àquilo tudo. Faltava-me um relacionamento mais inteiro. Faltava sentir-me pertencente. Faltava o ganho de uma relação com um outro diferente, mas ao mesmo tempo, parecido. Um outro que compreendesse mais plenamente minha língua, mas que fosse ao mesmo tempo confiável.
Foi por um acaso, chamado Ageu, que acabei me reencontrando com o CPPC. Bem mais madura, menos onipotente, mais humilde e, acredito até que um pouco mais sábia, genuinamente. Fui me envolvendo e trabalhando e sem perceber fui sendo curada de algumas feridas. Esses novos amigos não só não competiam comigo, como também, me parecia, se alegravam com minhas conquistas.
Fui me relacionando informalmente com algumas pessoas do CPPC, exatamente como acontece com amigos, só que essas pessoas eram amigos diferenciados, com quem se podia dividir também os sentimentos sobre questões profissionais.
Meu consultório encheu-se de pacientes, indicados não por supervisores, professores ou doutores, mas por amigos que confiavam em mim; confiavam na minha formação acadêmica, moral, ética e porque não dizer, espiritual. E entre estes amigos, não faltaram supervisores, professores e doutores, mas eram primeiro de tudo, amigos.
No CPPC encontrei pessoas a quem posso chamar de “meus iguais”; igualmente psicólogos e igualmente preocupados com o verdadeiro cristianismo. A partir da convivência, pude experienciar a teoria que tanto professava, ou seja, vivencio com meus amigos do CPPC o mais profundo do Arquétipo Fraterno e isto me faz uma pessoa melhor, logo, também uma melhor profissional.
No CPPC podemos, entre nós, nos despir de nossas máscaras e confrontar nossos Terapeutas-Feridos e, através da amizade, ser analisado/iluminado por nossas próprias dificuldades, falhas ou potenciais, curando assim nosssas feridas. Podemos, entre os nossos, deixar de ser apenas psicólogos, para sermos também pais, companheiros, filhos, seres humanos enfim, e olharmos juntos, para nossas tão sofridas impotências.
Há um grande pensador junguiano, de quem gosto muito, chamado Adolf Guggenbuhl Craig, que disse que “o que faz falta ao analista são relações simétricas, relações com outros à sua altura, amigos que ousem atacá-lo e fazê-lo ver não apenas suas virtudes, como também seus aspectos ridículos.”
Outro fator interessante que ocorre no CPPC é que nos encontramos com diferentes tipos de profissionais, de diversas escolas (psicanalistas, junguianos, psicodramatistas, centrados na pessoa e outros) e áreas (Social, Hospitalar, Organizacional ou mesmo estudantes de psicologia) e isso, ao invés de nos distanciar, nos aproxima; é nessas diferenças que aprendemos; que nos abrimos para o quê, para nós, é novo. Existe troca, mas sem competição. No CPPC, dividimos também as vitórias, as descobertas. Não temos medo de “perder” para o outro, pelo contrário, torcemos por ele.
Mas e a ciência, é menos importante? Claro que não. Devemos estar comprometidos, cada vez mais, com a qualidade e a eficiência, uma vez que lidamos com vidas, e isto só se consegue com muito estudo e frequente reciclagem, até para que possamos desenvolver nosso papel, que não é de Conselheiros, mas de Psicoterapeutas. Nosso conhecimento religioso é muito importante e benvindo, mas é no meio acadêmico que vamos buscar nossa formação profissional. Tudo que aprendi, nas escolas formais e informais, todo o saber cientïfico, dão a base para o desempenho de minha profissão. A teoria e a técnica são muito importantes, não as descarto de forma alguma, continuo fazendo cursos e estudando sempre, mas digo que o CPPC facilitou minha vivência profissional.
E depois de já muito bem estabelecidos, com o nome já reconhecido no mercado, por quê continuar frequentando o CPPC? Para continuar aprendendo e também para discipular. Para fazer por outros aquilo que um dia fizeram por nós. Para ajudá-los a crescer como pessoas, podendo integrar ciência e fé. E até mesmo servindo-lhes de coordenadores e/ou supervisores, encurtando-lhes, quem sabe, o caminho de busca; ou até mesmo, não menos importante, para simplesmente estarmos a seu lado, como referência, durante seu caminhar, pois é através das amizades genuínas e da própria individuação, tirando a máscara da rigidez, da estreiteza de visão, da falta de abertura para conosco mesmos e para com o outro, que nós, psicoterapeutas, podemos entrar em contato com a necessidade do Sagrado que existe em cada um de nós, para assim podermos realizar, com excelência, um trabalho criativo, competente e honesto para com nossos pacientes.
___________________________________________________________________
Deusa R. T. Robles é psicóloga em SP, membro do CPPC.