CONSIDERAÇÕES SOBRE A TERAPIA DO CRISTÃO, por Karin Wondracek
“Eu vim te procurar porque tu és cristã, não é?”
Depois de ouvir esta pergunta repetidas vezes, resolvi me interrogar sobre o seu conteúdo. Sendo normalmente proferida por um cristão que vem buscar auxílio, penso que traz vários significados.
“EU vim te TE procurar porque TU ÉS” – a procura a mim vem acompanhada de uma definição da minha pessoa – neste momento, sou enquadrada, emoldurada e se espera que eu me comporte dentro disto. Até aí, nenhuma novidade, porque todas as pessoas que procuram terapia têm uma expectativa, fazem alguma imagem do que esperam. Só que me parece que neste caso há algo especial – qual é o significado de querer uma terapeuta cristã, para aquela pessoa em particular? Para descobri-lo acolho sua pergunta, mas crio um espaço de não-resposta para que ela o preencha com suas expectativas e temores. Deixo que me diga como imagina que seja a minha fé, e, por extensão, posso deduzir como a tem estruturado na sua vida.
Também tem me dito “porque tu és cristã entendes o que eu falo, não preciso explicar”. Tento escutar isto de duas formas: por um lado , como uma expectativa de que eu compreenda a dimensão do Sagrado, já que tenho esta experiência: que sejamos dois companheiros na sua busca. E esta dimensão muitas vezes não consegue ser explicada, “jamais penetrou em coração humano”. Por outro lado, também escuto isso como a serviço da parte neurótica da fé, a serviço da resistência, e por isto a necessidade de “não precisar explicar nada”.
Karin Wondracek
karinkw@gmail.com