CELEBRAÇÃO DE IDENTIDADE E PRESENÇA, por José Cássio Martins
Em que a Ceia do Senhor e o CPPC são semelhantes?
Ambos são revelações de IDENTIDADE e PRESENÇA, tanto de Jesus, como dos discípulos, os de então e de agora, que somos NÓS PRÓPRIOS, HOJE, AQUI.
– Leitura Bíblica: Lucas 22:7-23
Finalmente, chegou o dia dos pães sem fermento, no qual devia ser sacrificado o cordeiro pascal. Jesus enviou Pedro e João. dizendo: “Vão e preparem a refeição da Páscoa”.
Onde queres que a preparemos?”, perguntaram eles. Ele respondeu: Äo entrarem na cidade, vocês encontrarão um homem carregando um pote de água. Sigam-no até a casa em que ele entrar e digam ao dono da casa: ‘O Mestre pergunta: Onde é o salão de hóspedes no qual poderei comer a Páscoa com os meus discípulos?’ Ele lhes mostrará uma ampla sala no andar superior, toda mobiliada. Façam ali os preparativos”.
Eles saíram e encontraram as coisas exatamente como Jesus lhes havia dito. Então, prepararam a Páscoa. Quando chegou a hora, Jesus e os seus apóstolos reclinaram-se à mesa. E disse-lhes: “Desejei ansiosamente comer esta Páscoa com vocês antes de sofrer. Pois eu lhes digo: Não comerei dela novamente até que se cumpra no Reino de Deus”.
Recebendo um cálice, ele deu graças e disse: “Tomem isto e partilhem uns com os outros. Pois eu lhes digo que não beberei outra vez do fruto da videira até que venha o Reino de Deus”.
Tomando o pão, deu graças, partiu-o e deu aso dsicípulos, dizendo: ïsto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim”.
Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Ëste cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês.
“Mas eis que a mão daquele que vai me trair está com a minha sobre a mesa. O Filho do homem vai, como foi determinado; mas ai daquele que o trai!” Eles começarama perguntar entre si qual deles iria fazer aquilo.
– Reflexão: Os trechos lidos nos falam do encontro de Jesus com seus discípulos para a celebração da Ceia.
Nosso encontro hoje recorda aquele, pois é, afinal, um encontro com o mesmo Jesus de então. Ele “é o mesmo hoje e o será para sempre”, diz a carta aos Hebreus.
Há naquele encontro uma autonomia e uma independência de Jesus: ninguémencomendou, nem sugeriu, e menos ainda ordenou aquele encontro. Ele mesmo o realizou por si próprio.
Ele é o Senhor – não teve de consultar ninguém, nem de aconselhar-se com quem quer que fosse. João 10:11, 17b, 18: “dou / tomar / autoridade”.
Mas esse encontro revela também sua inserção histórica na vida de seu povo, o povo no qual nascera e para o qual viera. A Ceia era a Páscoa que lembrava a saída do Egito, 1.280 anos antes.
Fazia parte de sua missão no mundo identificar-se e apresentar-se. Estes seriam os sinais da ENCARNAÇÃO.
A Ceia foi uma ocasião especialíssi-ma, ou, como diriam o Hernandez e o Schipani, “muy preciosa” para ele se mostrar identificado e presente.
Com ele estavam os discípulos. Estes também marcaram identidade e presença, para bem ou para mal.
E é no espírito deste encontro na Ceia de Jesus com os discípulos que o CPPC está hoje reunido aqui, para recordar aquelas identidades e aquelas presenças.
É, portanto, na Ceia do Senhor, fazendo hoje o papel dos discípulos de então, que o CPPC há de encontrar agora e sempre, a sua identidade e só a partir da Ceia poderá ele marcar sua presença.
Vejamos primeiro, como não poderia deixar de ser:
A – JESUS
I – IDENTIDADE DE JESUS – As falas de Jesus mostram que ele sabia quem era e o que fazia!
Nunca antes teve Jesus tanta comunhão com os discípulos!
Na Ceia sua IDENTIDADE estava absolutamente clara e ele a quis mostrar aos discípulos.
Havia, porém, um obstáculo: um deles não creu. Para este a identidade de Jesus não estava clara e sua presença não o convencia. E a tragédia é que ao perceber, depois, que traíra sangue inocente resolveu matar-se, ao invés de aceitar simplesmente a identidade e a presença de Jesus como a realização de tudo o que esperavam.
Aliás, no começo do ministério, a tentação do diabo consistiu exatamente em levantar dúvida sobre sua identidade: “Se és o Filho de Deus faça isto e mais aquilo”. Importante esta palavrinha “se”.
Mas nada disto impediu que ele se mostrasse e marcasse sua identidade como:
–Messias: o “banquete messiânico” era ali mesmo, apesar do contraste.
–Servo Sofredor: cf. Isaías 52-53.
–Senhor, com o caráter de Iavé, a graça em pessoa.
Psicologicamente a identificação de Jesus significa autoconsciência, decisão, assertividade.
Refere-se também à sua integridade (ser por inteiro o que é) e sua especificidade:não era seu vizinho, não era um dos irmãos, mas ele mesmo. Talvez Pedro se lembrasse dele andando sobre as águas.
Refere-se ainda à sua autoridade, uma vez que tudo o que disse naquela noite foi aceito inquestionavelmente pelos discípulos.
II – PRESENÇA DE JESUS – Assim como suas falas revelavam sua identidade, oselementos da Ceia mostraram e marcaram sua PRESENÇA.
Ele tomou o pão e o vinho em suas próprias mãos e os deu aos discípulos. Não os enviou por SEDEX, nem por e-mail. ENTREGOU-OS EM MÃOS! No dizer do ditado: “quem quer vai, quem não quer, manda”.
Jesus viria ainda a reafirmar sua presença com os discípulos antes de subir aos céus. Foi quando disse: “Eu estarei com vocês todos os dias até o fim dos tempos”.
Psicologicamente, a presença de Jesus tem agora a ver com sua transcendência. Aí podemos reconhecê-lo:
– na leitura bíblica, onde sempre o veremos com o pão em uma das mãos e o cálice na outra;
– na oração, quando seu rosto e seus ouvidos, seu coração estarão sempre junto de nós;
– no serviço, onde sempre o veremos na pessoa de quem atendemos;
– na missão, pois o nosso testemunho terá sempre o poder de tornar real para outros a identidade e a presença do mesmo Jesus da Ceia;
– e na esperança, pois tudo o que queremos no futuro é encontrarmo-nos com este mesmo Jesus. (Cântico – Jesus)
Vamos agora, depois da identidade e da presença de Jesus, enfocar
B – OS DISCÍPULOS
I – IDENTIDADE – Quem eram os discípulos? Qual sua identidade antes e agora?
Eles já haviam mudado de identidade. Pescadores de peixes agora eram pescadores de pessoas. Outros de outras profissões também mudaram.
Todos os que creram agora diante de Jesus se igualavam como discípulos. O que não creu, além de negar a identidade de Jesus, negou a sua própria: não era mais discípulo e sim traidor. Uma terrível identidade! Uma grande tragédia!
Muito embora na crise posterior com a crucificação os onze se afastassem dela, a identidade marcada na Ceia era a semente preciosa que Jesus iria recuperar. E deu certo o plano.
Foi Jesus quem marcou para seus discípulos essa identidade e ele sempre faz o mesmo com seus discípulos em todos os tempos.
Psicologicamente, a identidade dos discípulos seria retratada em sua perseverançacom o nome e a mensagem do Mestre, nunca apostatando. Também sua criatividadedeveria mostrar sua identidade ligada à do Mestre, devendo ser tão fértil quanto a dele. Todos os recursos de que sua personalidade dispusesse deveriam estar a serviço da criação de novos caminhos para a fé cristã.
II – PRESENÇA – Na Ceia os discípulos marcam presença COM JESUS. Este é o ponto-chave.
Eles poderiam estar presentes em muitos lugares naquela hora sem Jesus. Mas ali estavam com o Mestre.
A presença deles com Jesus gerava um envolvimento. Havia ali um comprometimento deles com o Mestre.
Nenhum deles estava ali fazendo outra coisa. A não ser, novamente apontamos, o traidor que, por duvidar da presença do verdadeiro Cristo de Deus, acabou por marcar sua ausência.
Os outros estavam presentes. E, de novo assinalamos, mesmo marcando ausência na crise da crucificação, foi por causa desta presença na Ceia que Jesus saiu atrás deles após a ressurreição. E, outra vez deu certo: a presença foi recuperada.
Psicologicamente, a presença dos discípulos deveria aparecer no vínculo da fidelidade do amor para com o Senhor. Era o colorido espiritual que sua vida passaria a ter dali em diante.
Outro sinal psicológico da presença dos discípulos seria sua atitude de descobrir e aprender tudo o que pudessem. Era uma disposição atitudinal que os marcaria na história da fé cristã.
Isto geraria neles uma disciplina espiritual que não tinham antes, fato que resultaria no grande dinamismo que passaram a apresentar.
Um fato curioso: a identidade cria a presença e a presença realimenta a identidade.
E assim é e sempre será com os discípulos de Jesus. (Cântico – “Um Vaso Novo”).
Por fim, vejamos o que acontece com
C – O CPPC
Queridos, para os que amam o CPPC de todo o coração, o que passo a dizer é empolgante, talvez arrepiante!
A existência do CPPC, por si só, se constitui num ATO DE OBEDIÊNCIA AO SENHOR JESUS.
O mesmo Senhor que criou a Ceia CRIOU TAMBÉM O CPPC!
Ele mesmo disse ao grupo de Curitiba: “Fazei isto, criai o CPPC em memória de mim!”.
E o grupo obedeceu!
Em resumo, Jesus disse: “Haja o CPPC!” E houve o CPPC!
I – IDENTIDADE DO CPPC –
O modo especial da criação do CPPC é que determina sua identidade comoDISCÍPULO DO MESTRE ETERNO!
Esta é, à luz da Ceia do Senhor, a verdadeira, permanente e definitiva identidade do CPPC. Junto com os onze.
Importa não seguir o trágico dissidente.
Esta identidade, por sua vez, determina, cria a vocação, o chamado e a missão do CPPC. Ela diz que o CPPC precisa estar sempre aprendendo com o Mestre Eterno efazendo o que Ele mandou.
É o ensino do Mestre e a obediência a ele que mantém o CPPC.
O Senhor que criou a Ceia criou também o CPPC e é na Ceia que o CPPC sempre terá de redescobrir, recuperar, reativar e manter sua identidade.
Ninguém pode tirá-la, porque ela foi dada pelo Mestre Eterno e Senhor de todas as coisas.
Também, ninguém outro pode manter, ativar ou validar esta identidade.
O CPPC não precisa que nenhum poder terreno o legalize ou lhe dê validade.
É na presença e na busca do ensino deste Mestre e Senhor que ele sempre será o CPPC.
O caminho do CPPC é entrar nos umbrais por onde Jesus nos leva à presença de Deus. Lá estaremos em contínua gratidão por tudo o que nos foi dado.
II – PRESENÇA – Queridos, o CPPC está presente nesta Ceia.
Até mesmo os que não vieram ao congresso estão aqui presentes, em nossa memória, em nosso coração. Eu mesmo me lembro de um bom número deles e delas.
Na presença de Jesus o CPPC faz sua própria anamnese (esta é a palavra que está no texto original grego). É para não esquecer.
Por causa da presença do Mestre nesta Ceia nós somos renovados, recuperados, restaurados.
Nós não efetuamos isto. O Senhor o faz por nós e em nós. Isto é o CPPC!
Jesus nos diz nesta Ceia: “Este cálice é o MEU SANGUE, o sangue da minha identidade, identidade que transfiro a vocês como meus discípulos.
Este pão é o MEU CORPO, o corpo da minha presença que será sempre revelada e que estará sempre com vocês, em suas reuniões, em seus trabalhos individuais ou grupais.
E assim, refeitos como CPPC, nossa missão é olharmos para o futuro, e ver nele Jesus mesmo a nos dizer:
“Todas as vezes que vocês atenderem alguém, lembrem se de que eu me lembro de vocês e estou presente, participando e fortalecendo o trabalho de vocês.
Trabalhem pela recuperação de quem está diante de vocês tal como eu trabalhei para a recuperação de vocês.
Esta é sua vocação, ó CPPC, esta é sua missão, usando minha anamnese antes de fazer a de seus clientes.
Lembrem-se de que, antes de serem seus clientes, eles são minhas ovelhas e eu não deixarei que se percam.
Por isso, com minha identidade, marco minha presença com vocês e não abro, até o fim dos tempos e por toda a eternidade.
Em verdade, em verdade vos digo tudo isto!
Assim será sempre. Amém”!
(Cântico – “Corpo e Família”/ Oração da Consagração / Cântico – “De Joelhos”/ Serviço da Ceia./ Bênção Apostólica.)
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José Cássio Martins é psicólogo