AFINAL, QUEM TINHA RAZÃO ? ENTRE FREUD E A BÍBLIA, por Maria Folberg
Maria Nestrovsky Folberg
Desde a publicação da obra polêmica de Freud – “Moisés e o Monoteísmo” – foram inúmeros os comentadores que se colocaram a favor ou contra os argumentos expostos pelo criador da Psicanálise. Principalmente hermeneutas bíblicos e talmudistas contestaram a posição de Freud, levantando críticas ao conteúdo e colocando em dúvida os conhecimentos bíblicos do autor.
Palavras-chave: Monoteísmo – Moisés – Judaísmo – Êxodo
“Aqueles que determinam escrever história a isso nem sempre são levados pela mesma razão: muitas vezes as têm bem diversas. Uns o fazem pelo desejo de mostrar a própria eloquência e conquistar fama. Outros fazem para homenagear àqueles cujos feitos narram, e não há esforços que não façam para lhes ser agradáveis. Outros, ainda, o fazem porque, tendo tomado parte nos acontecimentos que descrevem, querem que todos disso saibam. E outros, por fim, os fazem porque não podem tolerar que coisas dignas de serem conhecidas fiquem sepultadas, no silêncio.”
(Flavius Josefus, Antigüidade Judaica)
David Bakan, em um interessante estudo, denominado “Sigmund Freud and the Jewish Mystical Tradition”, relata no prefácio o encontro de Chaim Bloch, judeu erudito e cabalista, com Sigmund Freud que lhe pede para ler os rascunhos de “Der Mann Moses und die Monotheistische Religion”. A reação de Freud ao desagrado de Bloch com a obra foi violenta e deixou o estarrecido Bloch se questionando muito mais ainda sobre a razão do que teria levado o judeu Freud a escrever sobre Moisés negando sua bíblica identidade judaica.
A Descrição de Moisés, ou Moshé como é chamado em hebraico, caracteriza-se desde o nascimento como um dos meninos hebreus condenados à morte pelo Faraó. A história conta que, nascido aos sete meses de gestação, foi escondido em casa durante três meses, “Não podendo escondê-lo por mais tempo, (a mãe) pegou uma cestinha de papiro, calafetou com betume e piche, pôs nela a criança e deixou-a entre os juncos na margem do rio.” (Ex.2,3)
História semelhante, mutatis mutandis, a de Sargão da Mesopotâmia, a de Ciro da Pérsia, até de Rômulo e Remo, fundadores de Roma.
Neste caso, com pai e mãe conhecidos (“Um homem da família de Levi casou-se com uma mulher de seu clã.” Ex. 2,1 ) e preocupação familiar ( “A irmã do menino postou-se a pouca distância para ver o que aconteceria.” Ex. 2,4) por sua sobrevivência e manutenção. Coisa que permanece até os dias atuais, caricaturando a “iddishe mame”.
Deste ponto passamos à análise do nome. Diz Freud Ter-se baseado em Breasted que afirma ser MOISÉS um nome egípcio, mose, significando criança. So what? Vivendo no Egito, é fácil de entender que seu nome fosse egípcio, e o de criança = mose é sugestivo de sua condição de “recolhido das águas”, sem maiores referências. O próprio exemplo de Freud sobre o Chamisso, Bonaparte e Disraeli confirma o oposto ao que se propõe. O que é confirmado é “(…) o nome de Moisés ser egípcio não foi considerado como fornecendo prova decisiva de sua origem”.
Assim este argumento cai por terra.
A interpretação simbólica do cesto como útero; o rio como líquido amniótico, é óbvio: mas, até aí, nada a acrescentar.
Ao analisar os casos exemplares de nascimento do herói, Freud afirma “Com Moisés as coisas foram inteiramente diferentes”. Inobstante, até o fim, Freud tenta provar algo que, ao final, da primeira parte ele confessa: “Provas objetivas (…) não foram obtidas.”
Se a primeira parte apresenta um fato conclusivo “Moisés, um egípcio”, a segunda começa pelo levantamento da dúvida “Se Moisés fosse egípcio(…)” e a constatação da “estátua de bronze com pés de barro” parece tentar resumir um uma frase a dúvida que permeia todo discurso.
Se Moisés fosse egípcio … por que escondê-lo? Não se sabe o que aconteceu com Moisés durante os anos de meninice. Existe apenas um conto (uma agadáh) que relata de sua prova perante o faraó pondo carvão em brasa na boca, o que viria a justificar sua gagueira (e sua inofensividade, contrariando aos avisos dos ministros do rei).
Se Moisés fosse egípcio … “o que poderia ter induzido um egípcio aristocrata – um príncipe talvez, ou então um sacerdote ou alto funcionário – a colocar-se à testa de uma multidão de estrangeiros imigrantes, num nível atrasado de civilização e abandonar seu país com eles? O bem conhecido desprezo que os egípcios sentiam pelos estrangeiros torna particularmente improvável tal procedimento.”
Freud argumenta e se rebate ao mesmo tempo. Chama atenção em sua carta de 30 de setembro de 1934 à A. Zweig, seu depoimento: “O ponto de partida de meu trabalho é bem conhecido seu – foi o mesmo de seu Bilanz. Diante das novas perseguições, perguntamo-nos mais uma vez como os judeus chegaram a ser o que são, e por que atrairiam esse ódio permanente. Logo descobri a fórmula: Moisés criou os judeus. Assim, dei a meu trabalho o titulo O Homem Moisés, um Romance Histórico (Der Mann Moses, ein historicher Roman)”
Romance histórico, romance familiar, obra de ficção, Freud criou um Moisés. E daí, uma outra inferência, apoiada em Bakan, Yerushalmi, Bernstein: Freud, mais do que historiador, mais do que romancista, Freud é psicanalista e, frente a “extrema pobreza de fatos históricos confiáveis referentes a Moisés”, decide substituir a verdade improvável por especulações e reconstruir baseando-se na probabilidade psicanalítica.
Estas duas primeiras partes, cheias de idas e vindas, talvez até nos atrevêssemos a chamá-las de contradições e dúvidas, do que inicialmente se chama Romance Históricodepois se transforma em “Der Mann Moses und die Monotheistische Religion”, indica o caminho para a terceira parte (“Moisés, o seu povo e a religião monoteísta”), a mais extensa, aquela que tem dois prefácios. (“Com a audácia daquele que tem pouco ou nada a perder, proponho-me pela segunda vez (sic) romper uma intenção bem fundada e acrescentar a meus dois ensaios sobre Moisés (…) a parte final que retive. Terminei o último ensaio com a asserção de que sabia que minhas forças não seriam suficientes para isso. Quis significar, naturalmente, o debilitamento dos poderes criativos que acompanham a velhice, mas pensava também em outro obstáculo”) e que nos faz pensar que é aí que está (“dificuldades bastante especiais que pesaram sobre mim durante a composição deste estudo relacionado à figura de Moisés – dúvidas internas, assim como obstáculos externos”) o âmago do grande debate sobre essa obra.
Finalmente, ao encerrar o segundo prefácio, Freud chama a atenção para o fato do livro surgir “como uma dançarina a equilibrar-se na ponte de um dedo do pé. Se não tivesse podido encontrar apoio numa interpretação analítica do mito e passar daí para a suspeita de Sellin sobre o fim de Moisés, tudo teria tido de permanecer sem ser escrito”. Para esta declaração, encontramos em Yerushami (1992, a) a surpresa deste apoio em Sellin, uma vez que “era altamente especulativa e não tinha tido aceitação geral”. E mais, às várias reações ao Moisés de Freud vão de uma total aceitação, valorizada como obra do grande mestre, pai da psicanálise, até a rejeição inflexível de uma quase totalidade de especialistas em Bíblia pela “manipulação arbitrária de dados históricos” e de antropólogos e historiadores da religião que desqualificam seus argumentos “por se apoiar em suposições etnológicas há muito obsoletas”.
Não admira que Martin Buber, em nota de rodapé no prólogo de seu Moisés, diga: “É de estranhar e de lamentar que um homem de ciência tão eminente em sua especialidade como Sigmund Freud, tenha se decidido a publicar um livro em hipóteses infundadas etão pouco científicas como Der Mann Moses und die Monotheistsche Religion, em 1939”(o grifo é nosso).
Neste mesmo prólogo ao seu Moisés, datado de junho de 1944, Martin Buber nos chama a atenção para mais dois destaques:
1º é a citação de Eduard Meyer (1906) que põe em dúvida a historicidade de Moisés, afirmando que mesmo os que o consideram um personagem histórico não conseguiram “atribuir-lhe conteúdo real, nem apresentá-lo como uma individualidade concreta, nem estabelecer sua criações e obra histórica”.
Buber contesta-o dizendo de sua decisão de apresentar Moisés de forma a satisfazer essas insatisfações expressas. Baseando-se em uma “investigação crítica imparcial, não-condicionada, nem pela tradição religiosa, nem pelas opiniões científicas da academia.”
2º é o reconhecimento da impossibilidade de apresentação dos fatos em uma sucessão coerente, uma vez que a única fonte é o relato bíblico, onde se analisa explicitamente dois eventos: o êxodo e o acampamento ao pé do Sinai. O resto é lenda: lenda sobre o nascimento de Moisés; lenda sobre os acontecimentos pós-Sinai; e assim por diante.
Na Bíblia encontramos estes relatos indo e vindo do livro do Êxodo, ao de Números, ao Deuteronômio, sem qualquer preocupação de ordem cronológica. Buber, por sua vez, procura manter uma certa ordem em relação à composição bíblica. A esta recorremos freqüentemente no nosso discurso.
Der Mann Moses
A afirmativa de Freud à página 126 de que “um procedimento como o nosso, o de aceitar o que nos parece útil no material que nos é apresentado, rejeitar o que não nos convém e reunir os diferentes fragmentos de acordo com a probabilidade psicanalítica (…) não pode dar qualquer certeza de que cheguemos à verdade” leva-nos a repetir o que já dissemos algumas páginas antes: tudo indica que Freud criou um Moisés de acordo com seu gosto e talento…
O Moisés da Bíblia que aparece em Êxodo 2;11 : “Aconteceu naqueles dias que Moisés, sendo já adulto, dirigiu-se para junto de seus irmãos e presenciou os trabalhos”, este é um da mesma nação que os escravos, não esquece essa origem e assume riscos quando “viu um egípcio matando um de seus irmãos, um hebreu. Olhou para os lados e, não vendo ninguém, matou o egípcio e enterrou-o na areia”.
Qual o sentido no Egito dessa época de solidarizar-se com um escravo se este não era do seu povo, a ponto de matar o egípcio que, este sim, seria de seu povo?
Ao descrever seu método de análise bíblica, Buber diz “em muitos casos a forma completa o fundo, isto é, muitas coisas importantes se nos revelam por seus meios”. O versículo citado parece vir ao encontro dessa forma de hermenêutica quando nos permite validar o argumento pelo seu contexto.
Ao se assustar com a ameaça do hebreu de denunciá-lo como assassino, Moisés assume sua situação frágil, ou seja, de não pertencer à família real. É preciso fugir porque o Faraó não perdoará a alguém do povo dos escravos, que, mesmo tendo sido criado em sua casa, permanece hebreu, ter matado um egípcio.
A fuga, a acolhida pelo sacerdote midianita em sua família, a vida em contato direto com a natureza, tudo prepara a chamada de Moisés para que cumpra sua missão. Inscrita essa missão em seu nome – Moshé – tirado das águas – vai nos levar ao desígnio: tirar seu povo das águas da escravidão onde se afogava.
E daí, ouvir e ver, o trovão e a sarça ardente, colocam Moisés na situação de Navi, profeta, o primeiro dos profetas, que vai levar ao povo a palavra de se Deus. Freud ( p. 131) nos diz “ um grande homem influencia seus semelhantes por duas maneiras: por sua personalidade e pela idéia que ele apresenta”. Onde se enquadraria Moshe? Ao ser considerado um Navi, entra na vida do povo e na vida da Corte. Enfrenta o Faraó, empunha a vara e ameaça-o. Precisa falar-lhe de um Ente sem face, sem nome, que assume o povo dos escravos como seu povo.
O Deus que chama Moisés é o Deus de Abraham, Isaac e Jacó. Não é uma entidade desconhecida, não é um Deus novo.
Buber chama atenção para o fato de que o Deus que se dirige a Moisés não se autodenominar como dos pais (ou dos patriarcas) mas de seu pai (p. 73).
A observação de Freud (p. 133) de que para o povo judeu o Êxodo do Egito é uma prova de ser o povo escolhido por Deus talvez pudesse ser melhor compreendida pela descrição do pacto com Moisés e o povo e as pragas que assolaram o Egito até o Faraó mandar: “ Ide. Saí do meio do meu povo”(Ex. 12,31).
À saída “Deus fez o povo dar volta pela rota do deserto do Mar Vermelho. E, bem armados, os israelitas saíram do Egito”(Ex. 13:18).
E aqui gostaria de comentar o comentário de Buber (p. 102): “O conteúdo principalmente deste período, que consiste nas negociações entre Moisés e o Faraó e as ‘pragas’, não podemos situá-lo em um realidade histórica conforme a noção histórica, nem sob seus aspectos fundamentais. No Egito historicamente conhecido, as negociações entre o rei e o representante dos escravos não poderiam assumir formas como as que nos foram transmitidas (…). O relato das pragas se refere sempre a fenômenos naturais que, em sua maior parte, são comuns no Egito (…)”.
Buber (p. 103) descreve e analisa este fato e chega a concluir “(…) neste fantástico conto popular que há de inspirar às gerações do povo o sentimento de como entraram para a história passando de milagre a milagre, sentimos o hálito de um acontecimento remoto do qual já não dá testemunho qualquer conteúdo mnésico, a não ser somente a virtude de memória transformadora e mitopéica (…).”
O Decálogo
Na época do Êxodo dos judeus, no Egito há inúmeras publicações privilegiando o moral, o ético.
Os semitas primitivos consideraram o culto sem imagens como de uso natural. Entretanto, no Egito os grandes deuses apareciam sob a forma de animais e outros seres da Natureza.
No Decálogo fica proibida a adoração de outros deuses, excluindo toda e qualquerimagem. O “Deus de Israel” não deve ser limitado a uma imagem. Ele é o Deus histórico não-localizado na Natureza. Freud propõe então que a exigência dessa não-materialização faz os crentes se sentirem superiores aos que necessitam de imagens para adorar. Sabe-se que “as religiões como complexos de instituições e tradições populares são mais ou menos ‘primitivos’ em todas as épocas e em todos os povos” (Buber, 215).
Deve-se destacar que o Decálogo não privilegia o culto. Surpreendentemente, não figura nele o preceito da circuncisão; mas se ordena a observância do sábado, e não do Pessach. Fala de “não cobiçar”, mas não proíbe mentir.
Só há dois mandamentos positivos:
“Guardarás o sábado”
“Honrarás pai-mãe”
e todas as outras são negativas.
Não se mencionam festividades além do sábado: a ordem moral e ética deve ser preservada no dia-a-dia. E quatro são as coisas a serem preservadas sobretudo: vida – matrimônio – propriedade – honra social.
Assim, do ponto de vista histórico, o Decálogo é tanto legislativo quanto promulgação: seus artigos referem-se à constituição de uma comunidade pelo meio de estatutos, com conteúdos parcialmente religiosos, parcialmente éticos.
Para Moshé ficou claro que havia necessidade de uma constituição que regrasse a vida do povo e que unisse as diferentes tribos e clãs. Esta Constituição foi o Decálogo e baseou-se em três princípios fundamentais:
- poder ilimitado de um só Deus
- subsistência uniforme a todo povo
- solidariedade dos membros em qualquer época
Buber diz que devemos reconhecer no Decálogo a constituição pela qual “as gentes de Moisés se uniram a seu Deus e entre si”. E mais, considera-se um acontecimento único na história da humanidade “que o processo de cristalização decisivo no desenvolvimento de um povo tenha se consumado sobre uma base religiosa”.
Considera-se o Decálogo como o documento em que se baseou a conclusão do pacto: o brit que une Jeová ao povo de Israel.
No capítulo dedicado a “ O Espírito” Buber destaca Moisés como um dos neviim (profetas) de Israel. Cita neste caso a Mowinckel que em seu livro Psalmen studien(1929) diz textualmente que “é muito provável que o dom da profecia seja genuinamente israelita”.
Moisés é o portador do ruach, do espírito divino, e nessa conjuntura é o escolhido dentro do povo para o desempenho da sua missão. Este mesmo ruach é estendido aos 70 anciãos que vão ajudar Moshé no comando. Buber faz questão de estabelecer a diferença, ou melhor, a importância da missão, que é o cumprimento de uma tarefa entronizada no sujeito. E aí, recorre a Kaufmann em sua História da Religião de Israele a seu próprio livro La enseñanza de los profetas onde deixa claro que a “missão se realiza da esfera do ruach (…): realiza-se na esfera da palavra”.
Diz Freud (p.138) “ A preeminência concedida aos labores intelectuais através de cerca de 2000 anos na vida do povo judeu teve, naturalmente, seu efeito. Ela ajudou a controlar a brutalidade e a tendência à violência , aptas a aparecer onde o desenvolvimento da força muscular constitui o ideal popular.” Moshé descendia de uma antiga família judia de videntes. Portanto, esta capacidade lhe foi transmitida geneticamente, como à sua irmã Míriam e a seu irmão Aharão . Em função desta determinação a transmitir o dom da vidência dentro do clã é que Míriam (sua irmã mais velha) reprova Moshé por ter casado com Tzipora, a “kushita” (etíope), a midianita, de fora. Encerramos esta parte com outra observação de Freud ( p.138) “ Não é óbvio nem imediatamente compreensível por que um avanço em intelectualidade, um retrocesso da sensualidade deva elevar a auto-consideração tanto de um indivíduo quanto de um povo. Esse avanço parece pressupor a existência de um padrão definido de valor (…)”.
A chegada à fronteira
Kadesh é o nome do lugar de onde Moisés envia os doze visitantes, “os olheiros”, à Canaã. Após 40 dias, eles voltam e seu relato com boas e más notícias, recebe as mais diferentes reações. Entretanto confirmam que este é o país do leite e do mel, como Jeová tinha lhe prometido, e traziam cachos de uvas, figos e tâmaras, Josué (um dos olheiros) e Caleb (outro olheiro) dizem “ Se o Senhor nos quer bem nos introduzirá e nos dará essa terra onde corre leite e mel”(Números, 12, 13, 14).
Moisés passa a considerar a necessidade de disposições legais que regulem a nova forma de vida na terra de Canaã, com condições sociais justas; leis agrárias que protejam a terra, e seus usuários consequentemente.
À volta de Kadesh surgiram algumas hipóteses: Smend (apub Buber, p. 304) diz que era o distrito da tribo de Levi desde os tempos memoriais, e que Moshé era um dos sacerdotes dessa tribo, junto com seu irmão Aharão. Moshé converteu a praça em centro de Israel, de onde promulgou as leis e instruiu ao povo.
Moisés dá-se conta aí da necessidade de divisão dos poderes sacerdotais e políticos, sendo que neste último se insere também a questão militar.
No Deuteronômio encontramos o discurso de despedida de Moisés a seu povo: “ O Senhor nosso Deus disse-nos em Horeb: ‘Já é longa nossa permanência neste monte. Voltai-vos e parti (…)’ Eis que vos entrego este país. Ide tomar possa da terra que jurei dar a vossos pais, Abraham, Isaac e Jacó, bem como à sua descendência (…)”.
Faz uma retrospectiva dos 40 anos de jornada e proclama as leis e os decretos que deverão nortear a vida do povo em todas suas sucessivas gerações, finalmente, abençoa a todos.
E, sozinho como sempre esteve, “Moisés subiu das estepes de Moab ao Monte Nebo”, onde morreu. “Ao morrer, Moisés tinha 120 anos. Sua vista não tinha enfraquecido nem o vigor se tinha esmorecido”. E finaliza o livro do Deuteronômio 34, 10-12 “ Não voltou a surgir em Israel profeta semelhante a Moisés, com quem o Senhor tratasse face a face, nem quanto aos sinais e prodígios que o Senhor lhe mandou fazer no Egito, contra o Faraó e todos os seus ministros e o país inteiro, nem quanto à mão poderosa e a tantos e tão terríveis prodígios, que ele fez à vista de todo Israel”.
OBRAS CONSULTADAS
BAKAN, David. Sigmund Freud and Jewish Mystical Tradition. New York: Schoecken
Books, 1958.
BERENSTEIN, Richard J. Freud e o Legado de Moisés. Rio de Janeiro: Imago, 2000.
Bíblia Sagrada. Petrópolis: Vozes, 1982.
BUBER, Martin. Moisés. Buenos Aires: Lumen-Hormé, 1994.
Encyclopedia Judaica. Vol. XII. Jerusalém: Keter Publishing House, 1972.
FREUD, Sigmund. Moisés e o Monoteísmo : três ensaios. Rio de Janeiro: Imago, ESB,
1975.
RATTEN, Beatrice K. Los hebreos. México: Fondo de Cultura Económica, 1992.
YERUSHALMI, Yossef H. O Moisés de Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1992(a).
YERUSHALMI, Yossef H. Zakhor: história judaica e memória judaica. Rio de Janeiro:
Imago, 1992(b).
WECHSLER, Elina & Schoffer, Daniel. La metáfora milenária: una lectura
psicanalítica de la Bíblia. Madrid: Biblioteca Nueva, 1998.
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