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A SEXUALIDADE MASCULINA DA MULHER, por Vera Schonardie

Artigos e Notícias

O relato bíblico da Criação pretende recordar ao ser humano três princípios basilares que deveriam ser o fundamento da história de vida na Terra:
a) A existência de um Ser Superior, maior do que tudo e todos que aqui realizam seu processo vital. O humano tem a marca do Criador.
b) De acordo com o Projeto Divino, a realização do homem ocorre na exata medida em que executa plenamente sua especificidade humana.
c) Foram criado (a)s duas versões, uma masculina e outra feminina, do mesmo essencial projeto humano. O encontro de ambos realiza o companheirismo, o prazer e a continuidade da espécie. Entretanto, ambas as versões, masculina e feminina têm, cada uma, sua proposta particular de realização dentro do projeto humano.
Lançando um olhar à jornada humana vêmo-la, apesar do empenho interventor de Deus e de alguns mais plenos da sabedoria do Ser, como um contínuo afastamento da essência criadora, da humanidade e da igualdade nas diferenças. Para a mulher, particularmente, o processo histórico tem sido muito infelicitador.
Desde a mais tenra infância a mulher é bombardeada com conceitos sociais que lhe ensinam a respeito da superioridade masculina. Ainda hoje temos muitas culturas em que, basicamente, a mulher é mercadoria de posse, negociação e ostentação para o homem.
Como, em certo sentido, todo indivíduo tende a objetificar-se, identifica-se naqueles objetos a que sua sociedade atribui poder.
Segundo o nosso tipo de cultura, quem possui o pênis possui a força, poder, a superioridade. Esta superioridade não está ligada ao pênis músculo em si, mas é um modo de pensar: masculinidade significa primado, superioridade, ação; feminilidade aponta para receptividade, absorção. Contudo, mesmo oprimida historicamente por um forte complexo de inferioridade, a mulher não perde sua pulsão vital, que clama por manifestar-se, por realizar-se.
No homem há a imediatez na pulsão porque não existe a distorção social e, pelo fato de ter no âmbito familiar a facilitação, ele consegue viver a espontaneidade da sua pulsão desde criança, projetando-a na alteralidade feminina que o completa. A mulher que funciona no padrão de revide tem o instinto, o desejo do ato sexual, porém alguma coisa mais forte do que ela a inibe, a torna frígida, faz com que adoeça mas não se concede.
Gestada socialmente em complexo de inferioridade e psiquicamente absorvida em simbiose pela mãe (que é o primeiro objeto de desejo, a matriz da relação social), se esta estiver presa à psicologia de vingança, a menina desde cedo incorporará um modelo de comportamento não funcional.
Se o menino se refere e se identifica à mãe, ficará sempre preso a ela; a menina, com igual identificação, poderá na evolução do Édipo buscar no pai uma afirmação de superioridade e, a partir daí, perde a simplicidade de relacionar-se com espontaneidade aos objetos. Detalhando, diria que a mulher, dentro deste quadro, se estrutura psiquicamente numa necessidade de reconquista contínua e nisto altera a autenticidade primária do ser de seus descendentes. Buscando a apropriação da força, do pênis psíquico, se apropria especialmente dos filhos machos. No entanto, castra o filho porque o subtrai de si mesma, tornando-o seu servo. O macho da nossa sociedade é aprisionado totalmente pela mãe. Ela o inunda com a sua necessidade de prevalecer com força, porém, ao mesmo tempo, o torna dependente. No torná-lo forte conserva-o acima de tudo para si. Eis porque alguns neuróticos são incapazes de autonomia psíquica, de autenticidade. Além disso, a maioria dos possuidores de um pênis conservam a psicologia feminina. Estes machos externos, por causa de sua forte relação com a mãe, se estruturam em atitude receptiva ou em disponibilidade ao pênis psíquico materno e, por sucessiva transferência, se unem de modo dependente a uma fêmea externa, porém com tipologia interior masculina. O caso mais freqüente entre casais é que o verdadeiro macho é a fêmea aparente e a verdadeira fêmea é o macho aparente.
Psicologicamente, nenhum de nós é apenas fêmea ou apenas macho, somos um e outro. Na realidade, macho-fêmea são funções, modalidades complementares uma da outra, co-essenciais para que se realize o projeto divino da Criação. O ato sexual não deve acontecer para provarmos nossa masculinidade ou feminilidade, mas para consagrarmos na plenitude e inteireza do ser, o que, em última instância, nos leva à proximidade com Deus.
Conta-se que Santa Clara e São Francisco de Assis nutriam entre si um amor profundo, que jamais se concretizou carnalmente. Contudo, certa vez, em Santa Maria dos Anjos, puderam encontrar-se frente a frente, na presença de todos os franciscanos e clarissas. Começaram a falar das coisas do Senhor. A interação semântica entre eles era tão plena que os assistentes viram um grande incêndio. Só que não havia nenhum incêndio. Era o amor que se tornara tão elevado que chegou a se manifestar numa outra intensidade de campo etérico. Verdadeiro ou não, este episódio aponta para algo emocionante: um congraçamento que envolvia o físico, o prazer, o intelectual, o emotivo e o espiritual… um estado de graça!
Antônio Meneghetti, no cap. 06 do livro “Ontopsicologia Clínica” (Edirice, 1989) escreve: “O unir-se de dois seres humanos é uma ocasião que se faz causa do todo e neste ato é necessário que um tenha um pênis e o outro vagina, mas um vale tanto quanto o outro. Se fazeis o coito e o fazeis para vos sentir fêmea, ou macho, para ter um primado, já estais fora de vós mesmos, atraiçoastes a vós mesmos.”
Quando uma mulher se move toda para derrotar o pênis, permanece a repetir o mito de Sísifo. Neste altura, aliena sua identidade psicológica porque, na ocasião de sua sexualidade se empenha em coincidir numa dimensão de psicologia masculina, isto é, se reconstrói no complexo de inferioridade, de supremacia alienante, pois naquele ato se afasta de sua natureza instintiva (a vagina indica direção de acolhimento, de intimidade) e não se realiza em plenitude personológica. Perde os 50% de sua feminilidade para apossar-se da caracterologia masculina e por isto há um perder no partir e no chegar. De um pressuposto falso, deriva uma meta igualmente falsa.
A agressividade destrutiva, o mal, nascem da frustração social da mulher. Inibida desde o seu nascimento na sua espontaneidade, na sua força, ela irrompe sua carga vital, mais tarde, justamente no sexo e esta é tanto mais destrutiva quanto maior for a frustração. Quanto maior for o complexo, maior será o ódio, o desejo de matar o homem. Sobre o sexo vai se adequar a dimensão do eu e o sentido que nos torna mais próximos à vida do todo. No entanto, os homens reduziram o sexo a uma arma de castração de um para o outro; castram a alma do ser humano.
Enquanto a mulher não conseguir libertar-se da vindicatividade do próprio corpo, não chegará jamais ao que pode ser. Reduzida a pensar-se objeto de prazer somente enquanto fêmea, faz um investimento exagerado nos estereótipos de feminilidade. O sexo então não significa conquista da própria identidade no prazer, mas, sim, renúncia à própria identidade.
Somente à medida em que a mulher se desinvestir deste circuito fálico, que a faz prisioneira de seu próprio sentimento de inferioridade e a joga para longe de sua identidade, através da apropriação da atitude psíquica do macho, poderá reencontrar a própria dimensão.

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Vera L. Petry Schoenardie
Psicóloga – Membro do CPPC

 

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