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CREIO NA RESSURREIÇÃO DO CORPO… E NA COMUNHÃO DOS SANTOS, por Carlos José Hernández

Artigos e Notícias

A crença cristã na ressurreição do corpo e na comunhão dos santos fornece um suporte muito particular para o conhecimento científico em tempos de desorientação. Esta afirmação do Credo tem estado subjacente ao empreendimento universitário do Ocidente.

Nos primeiros 1500 anos a crença construiu um tabú que dificultou o estudo da biologia humana. Apesar da proibição, a ciência positivista investigou o corpo humano e sua biologia. Esta conquista do saber como reação ao dogmatismo clerical teve conseqüências: negou à crença o estatuto de dado no objeto de estudo da ciência. Deste modo o dogmatismo religioso gerou uma dissociação no foco de investigação, equiparando a biologia humana à biologia animal em geral.

Apesar disso, estudos recentes destacam o valor da esperança nos mecanismos biológicos do ser humano, e ressaltam ainda mais o papel decisivo que o fator relacional tem na biologia humana. Deste modo, esperança e solidariedade são valores estritamente humanos inscritos no biológico (Maturana).

Nestes achados há um início de diálogo mútuo e criativo entre fé e ciência, que desafia a nós os que cremos a perceber que Deus não fala unicamente conosco, mas também se revela ao cientista e à cientista. Portanto, a afirmação do Credo, uma vez superado o dogmatismo clerical e a dissociação epistêmica, abre os campos da investigação científica a uma compreensão que é novidade.

Este é, então, um momento de nós, que cremos na ressurreição do corpo e na comunhão dos santos, nos comprometermos apaixonadamente nas buscas científicas de uma nova biologia, assumindo os riscos que isto implica.

Esta nova biologia que avança surpreendentemente de mãos dadas com a engenharia genética não deve assustarnos, mas, pelo contrário, estimularnos com seu desafio. São tempos nos quais o/a observador/a científico perdeu toda segurança e portanto a investigação está aberta a incorporar o mistério da fé como um recurso a mais na procura da verdade.

Estes são tempos de grandes incertezas, tempos nos quais se desnuda o fracasso da construção de progresso científico dissociado do sujeito. Hoje o prognóstico do espanto não vem do oráculo sagrado, mas da academia que denuncia a intoxicação do planeta e a ameaça à biologia.

Crer na ressurreição do corpo e na comunhão dos santos é afirmar um universo governado pela Graça. É proclamar que o amor é mais forte que a morte.

Crer é ter convicção de que o ventre humano pode acolher a uma Divindade Trinitária que se revela ela própria como alimento de nossa biologia. Crer é também a aceitação de um parentesco cósmico que ilumina toda solidão e indica um lugar familiar onde aportar.

É um momento de transformação que aquieta o olhar narcísista que possui o objeto construído, isto é, o ídolo. Esta transformação alivia o olhar heróico das espadas. Transformação que, ao tranquilizar o olhar, afrouxa a mão que aperta a espada, abrindo-a à dádiva da ternura.

Jesus Cristo Ressuscitado, a nova biologia, é Aquele que tem o olhar abarcador, o que inclui todos os olhos cansados pelo esforço prometeico, este esforço que gera culpa. Seu olhar inclui a conduta heróica dos homens que extraviaram suas mulheres na empresa guerreira. É o olhar do ícone Panthocreator com o Livro que revela que nEle está a Ressurreição e a Vida, notícia registrada em um texto que escrevem mulheres e homens do planeta.

A conseqüência imediata é a interpenetração entre o/a cientista /a que busca apaixonadamente a verdade e a Vida que se automanifesta ao coração deste/a, comunicando-lhe os códigos escondidos à razão discursiva. É de algum modo a consagração da objetivação necessária à investigação no altar da fé, na ordem do amor.

A conseqüência da crença na ressurreição do corpo e da comunhão dos santos em nível empírico da pesquisa científica se traduziria por:

 

  • Uma abordagem do objeto de estudo humano que inclua a fé, como um acontecer da biologia.
  • Um saber humilde que reconheça não tanto o poder do conhecimento, como a transformação dos erros deste conhecimento. Um saber que se afirme em aproximações sucessivas, provisórias e infinitas ao objeto de estudo.
  • Uma atitude reverente ante a Vida que nos inunda por todos os acessos que imaginamos
  • Uma aposta total no amor como regulador biológico de toda sensopercepção com a qual obtemos os dados que iniciam o processo investigativo.

Tudo isso, recordando o enquadre da mística cristã: nos referimos ao movimento monástico que no século IV descarta o poder político da Igreja. Este movimento se inicia com o desapego de toda manipulação, em particular a que provoca o pensar reflexivo.

Este desapego tem três momentos:
– Silêncio, como origem da palavra
– Solidão, como presença inquietante da alma
– Oração, como o Outro que é nosso destino irremediável.
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Carlos José Hernández

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